Dia 3
Hoje vamos visitar a parte central da ilha de São Miguel. A nossa primeira
paragem foi na lagoa do Fogo, que figura entre as maiores da ilha. Paramos nu
miradouro da Barrosa junto à estrada para apreciar a graciosidade desta obra da
natureza. Ao contrário das outras lagoas que já visitamos, a lagoa do Fogo não
tem acesso por estrada. Se nos quisermos aproximar da lagoa temos de nos
deslocar por trilhos que descem até à água. Não vimos preparados para a
caminhada, por isso tem de ficar para uma próxima vez.
Seguimos para a Caldeira Velha no caminho de quem desce para a Ribeira
Grande. Trata-se de um pequeno parque natural com nascentes de água quente. O
parque tem duas piscinas naturais, um centro de interpretação da natureza
vulcânica e muita diversidade de plantas. Junto à piscina mais pequena tem uma
caldeira em permanente ebulição, onde o cheiro a enxofre é tão forte que chega
a enjoar. A água é encaminhada da caldeira a ferver por uma pequena levada que
desagua na piscina onde a temperatura atinge os 32º C. A água quente e o
ambiente natural envolvente levam-nos a um relax total. Ao fim de algum tempo
na água começamos a ficar com as pontas dos dedos errogadas, mas quem é que
quer sair deste caldo? A muito custo lá convenci as senhoras para irmos
conhecer o resto do parque e ainda falta uma piscina.
Seguimos para a parte superior do parque da Caldeira Velha pela vegetação
sempre imponente. Chegamos à piscina maior que recebe água de uma bonita
cascata que se precipita de uma altura de cerca de 5 metros numas pedras meio
que desarrumadas numa das extremidades da piscina. Aqui não está tanta gente,
ao contrário da anterior o que se percebe facilmente quando colocamos os pés na
água. A temperatura está a uns gélidos 24º! Para quem vem da anterior esta água
parece estar mesmo fria. Entrei destemido ou não fosse eu dos Algarves, terra
inóspita, de frio e águas enregeladas! Á medida que me aproximo da cascata a
temperatura vai subindo. Coloco-me completamente debaixo da cascata para
receber umas massagens da mãe natureza. Parece que estou no Brasil debaixo de
uma cachoeira, mas enquanto lá a água é fria, aqui é quente. Desfrutei até me
cansar. Quanto às senhoras, foi preciso muito poder de persuasão para as convencer
a entrar. Para a Nikky até foi fácil de entrar. Mas depois de lá estar dentro,
habituada à temperatura mais quente da piscina anterior, rapidamente pediu para
sair. A Marisa lá a convenci a ir até à cascata lutando contra o frio inicial.
A Lucy só se convenceu quando percebeu que se conseguiam umas fotografias bonitas
na cascata. Então lá fez o sacrifício em prol da pose para a foto.
Os banhos na Caldeira Velha não são apenas agradáveis como também
terapêuticos. Para além de limparem a pele, as águas vulcânicas tem
propriedades minerais que são benéficas à saúde em geral. Quem sabe temos aqui
a fonte da juventude! Após os banhos seguimos até à cidade da Ribeira Grande.
A Ribeira Grande é a segunda maior cidade da ilha, a seguir a Ponta
Delgada, e já foi em tempos a capital da ilha. Visitamos a Igreja de Nossa
Senhora da Estrela. Do cimo da escadaria avista-se primeiro o coreto, em baixo,
e ao longe o oceano. Esta é uma cidade ribeirinha. Depois passamos pelo
edifício da câmara municipal na praça central onde desagua a ribeira que dá o
nome à cidade. Enquanto as senhoras vão a um minimercado fazer umas compras, eu
faço uma visita inesperada.
Ao passar pela câmara municipal, reparo numa
pequena porta com uma escadaria estreita com uma placa que indica uma torre.
Subo à descoberta até dar de caras com um pequeno escritório. Lá dentro está um
funcionário que vem ao meu encontro e me pergunta se gostava de visitar a
torre. Eu digo que sim e ele então fecha a porta do escritório e vem abrir uma
outra porta de acesso à torre. Segue comigo numa visita guiada até ao topo.
O
senhor é funcionário da câmara municipal e diz-me que a torre está aberta ao
público, mas como o acesso ao topo tem várias portas e janelas para proteger
dos pombos, os visitantes não podem subir sozinhos. Enquanto subimos conta-me
um pouco da história recente da torre e falamos um pouco sobre a atualidade na
ilha. Conta que a recente crise financeira do continente passou um pouco ao
lado dos Açores. Como as pessoas consomem muitos bens produzidos na região, a
redução nas exportações para o continente acabou por não afetar assim tanto a
economia da região.
Do topo da torre temos uma vista de 360º sobre toda a cidade. Vê-se a
ribeira que no seu curso a jusante encontra a cidade no seu caminho para o mar.
A cidade teve de lhe abrir as portas para que esta pudesse seguir o seu
destino. Não fez mais que a sua obrigação, pois antes da cidade o ser, já a
ribeira o era. A norte avistamos o atlântico logo ali tão perto. Hoje parece
estar bastante revoltado. Começam a cair uns aguaceiros e recolhemos novamente
escadaria abaixo. Agradeço a disponibilidade do senhor e despeço-me.
No largo da câmara as pessoas começam a recolher da chuva. Vou até ao
minimercado para ver se já terminaram as compras. Eu a chegar e as senhoras a
saírem. Compraram das tais cervejas pretas “das nossas”. Ficamos fãs. Depois
seguimos de carro até à praia. A Ribeira Grande tem uma das maiores praias da
ilha, a Praia do Monte Verde.
O mar está pouco convidativo, revoltado como
referi e imponente. Subimos até ao miradouro do Castelo onde somos borrifados
com a água do mar que chega de forma surpreendente com a rebentação das ondas
nas rochas. Como se diz aqui na minha terra, “o mar está feito num cão”, e que
bicho! Deve ser um Rottweiler. Lá em baixo, as piscinas da Ribeira Grande
enchem-se abruptamente à chegada de cada onda. Escusado será dizer que hoje não
há banhistas. Mais acima, no miradouro do Palheiro as vagas já não nos atingem,
mas o mar continua a meter um grande respeito.
Deixamos a costa e seguimos para a Maia, não aquela perto do Porto, é outra
homónima que têm por aqui. Vamos visitar a fábrica de chá Gorreana, uma
industria secular, que segundo os proprietários é “a mais antiga, e atualmente
única, plantação de chá da Europa”. Desde 1883 que aqui se cultiva o chá, mantendo
as tradições originais do oriente. A fábrica é paragem turística obrigatória. Os guias dos grupos organizados fazem o tour ao edifício. Os outros visitantes como nós passam pelas várias salas da fábrica onde podemos ver diversas máquinas utilizadas na preparação das folhas de chá.
No primeiro
andar há uma enorme secção de sequeiros, onde as folhas aguardam até ficarem no
ponto certo. Numa das últimas salas da visita, encontramos um grupo de
empregados da fábrica que estão sentados numa mesa a escolher folhas de chá
manualmente. No final oferecem-nos uma chávena de chá e se quisermos podemos
comprar uns bolinhos tradicionais para acompanhar. Na loja, à saída, pode-se
comprar os vários tipos de chá produzidos na fábrica, bem como outros produtos
regionais. No exterior, a área envolvente da fábrica é coberta por plantações
de folhas de chá que delicadamente torneiam as encostas da região.
Voltamos à costa, agora na povoação da Maia. Vamos até ao miradouro do
Frade. Este miradouro tem vista para uma pequena baia que pode ser acedida por
umas escadas acompanhadas por uma estrutura de madeira. Descemos ravina abaixo
e chegamos tão perto do mar que conseguimos sentir os borrifos das ondas. Um
dado curioso aqui nos Açores é que quase todos os miradouros têm mesas e
cadeiras para piquenique, assim como locais para fazer churrasco. Pena é que o
dia hoje não esteja para grandes festas, porque uma mesa num local destes é
certamente a melhor vista que podemos pedir.
Seguimos para a povoação seguinte da Lomba da Maia e para o próximo
miradouro, o do Tio Domingos. Lá estão as mesinhas para o piquenique e mais uma
vista fabulosa sobro o atlântico. Junto ao miradouro dirigimos por uma pequena
estrada de desnível bastante acentuado seguindo as indicações de praia. Quando chegamos
ao final da estrada, a praia nem vê-la, Vimos sim o pequeno riacho que segue o
seu curso em direção ao mar.
Eu e a Marisa decidimos seguir a pé, enquanto a Lucy, a Nikky e a Lourdes
ficam no carro. Chegamos a uns moinhos antigos numa encosta muito húmida.
Estamos na cascata da praia da Viola, local extraordinariamente pitoresco
escondido dos olhares menos curiosos. As estruturas dos moinhos em pedra foram
invadidas pela vegetação mas ainda se consegue ter uma ideia do seu
funcionamento em tempos bastante idos.

Descemos pelos moinhos ainda com a
esperança de encontrar a tal praia. Cada vez estamos mais próximos do mar por
isso não deve ficar longe. Seguimos por um caminho empedrado na única direção
possível. Agora já estamos praticamente dentro de água. O caminho termina e
seguimos por cima de pedras molhadas até que ao virar de um rochedo lá
encontramos a praia da Viola de areia fina e escura. Não podemos perder muito
tempo porque a maré está a subir e corremos o risco de ficar encurralados deste
lado. Apanhamos a areia da praxe para a coleção da Marisa, tiramos umas
fotografias e regressamos.
Regresso ao carro para chamar a Lucy, pois não faz ideia do que perdeu. A
Lourdes e a Nikky ficam a descansar pois este terreno é muito agreste para
elas. Voltamos aos moinhos enquanto ela se delicia a tirar fotografias. O sol
está a começar a esconder-se o que ainda torna o espetáculo mais interessante.
Depois de muitas fotografias lá voltamos ao carro. A Lucy já não consegue ver a praia porque entretanto a maré já subiu e não conseguimos passar. A Lourdes já estava em
pânico a pensar que ia passar a noite sozinha neste ermo tão remoto.
Saímos da Lomba da Maia já praticamente de noite. Voltamos à estrada EN1, a
via rápida da ilha, em direção ao Nordeste. Este não é apenas o nome do ponto
cardeal mas também o nome de umas das povoações mais remotas da ilha de São
Miguel. Chegamos ao parque natural da Ribeira dos Caldeirões já noite cerrada.
Vamos dormir dentro do parque, no único alojamento existente. Quer isto dizer
que durante a noite temos o parque só para nós. Á noite pouco ou nada se vê,
mas o barulho da água, dos pássaros e de outros pequenos animais dizem-nos que
estamos num lugar especial. Á nossa espera no apartamento tínhamos o já
habitual pacote de boas vindas de produtos tradicionais açorianos: queijo,
doce, leite, queijadas, entre outros. Juntando a gastronomia à natureza não
podíamos terminar o dia de melhor forma.
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