Dia 4
Assim que acordei a primeira coisa que fiz foi abrir todas as portadas das
janelas. Sabia que estávamos num lugar especial, mas como tínhamos chegado no
dia anterior já noite cerrada, não tivemos oportunidade para apreciar grande
coisa. A Lourdes tinha praguejado na noite anterior porque devido à falta de
iluminação tivemos dificuldade em ver o caminho até à porta de casa. Convidei-a
a vir à janela e perguntei-lhe se estava preparada para o que estavas prestes a
testemunhar. Ela anuiu ao desafio. Afastei a cortina e eis que estamos perante
uma das vistas mais belas que já presenciei a partir de um quarto de hotel.
Depois de contemplar a natureza envolvente do parque a partir da nossa janela,
a Lourdes lá se arrependeu das pragas que tinha lançado na noite anterior.
Calcei os meus ténis e fui fazer a minha corrida matinal. Gosto de combinar
o exercício com a descoberta de novos locais, especialmente quando estes são na
natureza. O parque natural da Ribeira dos Caldeirões não é muito grande.
Percorri a estrada até à extremidade do parque e depois entrei por um trilho
por entre a floresta já nas imediações do parque.

O percurso estava assinalado
com indicações de uma ponte romana e da ribeira. O trilho enlameado e com
constantes desníveis tornou o exercício algo exigente, mas como a distância foi
curta acabou por ser simples. Segui direto para a ribeira, onde encontrei uns
velhos moinhos de água que já começam a ser habituais aqui nos Açores. Os
moinhos situam-se no cruzamento de duas ribeiras por debaixo de um viaduto e
estão bastante degradados têm umas placas identificativas como ponto de
interesse e também uma plataforma em madeira de onde podemos apreciar melhor a
estrutura. Os moinhos também têm acesso por estrada, mas não a partir do parque
natural. Volto ao trilho de onde vim para regressar. O regresso custa um pouco
mais pois é sempre a subir. Faço um desvio até à ponte romana que passa por
cima da ribeira dos Caldeirões. O caminho até lá é repleto de vegetação e até
bambu encontro. Nunca pensei encontrar bambu em tanta quantidade em Portugal. A
última vez que vi tantas canas de bambu foi quando estivemos no sudeste
asiático.
De regresso ao parque, passo por uma cascata que se precipita num pequeno
lago artificial criado para o efeito. Perto desta existe um telheiro com umas
mesas para piquenique e um churrasco. Típico! Depois subo por umas escadas até
uns moinhos antigos que existem dentro do parque. O proprietário contou-me que pretendem
fazer mais quartos aqui. Estes moinhos ficam junto à cascata que dá para a
ribeira que dá o nome ao parque. Mais acima há uma pequena casa onde expõe
vários peças tradicionais e um pequeno lago artificial com peixes. O parque é
todo ladeado por várias flores que embelezam toda a envolvente.
Regresso a casa para despachar o pessoal. Hoje vamos passear até à povoação
das Furnas, terra das famosas caldeiras termais. A freguesia das Furnas é
provavelmente a mais turística da região com vários hotéis e spa’s.
Atravessamos a ilha de norte a sul pela estrada regional N2, parando sempre que
a vista nos despertava a curiosidade.
Chegados à povoação fomos logo à Poça da
Dona Beija, um complexo termal, para saber os horários. Como está aberto até
tarde, decidimos vir só à noite e aproveitar o dia para visitar outras coisas.
Fomos então visitar o parque das Caldeiras Vulcânicas que fica no centro da
povoação das Furnas. O parque é uma mostra perfeita do reboliço que ocorre no
interior desta terra. Podemos ver várias caldeiras em ebulição permanente e
sentir o intenso cheiro a enxofre que paira no ar. Há fumo por todo o lado. As
caldeiras estão confinadas numa área de acesso restrito para manter os
visitantes a uma distância segura. A temperatura elevada da água sente-se á
distância. Passeamos por entre as caldeiras num jardim irrepreensivelmente
arranjado com vistas soberbas para algumas caldeiras. Há uma zona específica
onde podemos andar em que se sente o chão mesmo muito quente.
Junto ao parque das caldeiras estão várias senhoras a vender produtos
regionais. Compramos o típico bolo lêvedo que já tínhamos experimentado
anteriormente no jantar em Capelas. Desta vez compramos um saco cheiro e como
ainda não almoçamos sabe “que nem gingas”. Seguimos de carro pela povoação,
passamos pelo Furnas Boutique Hotel Thermal & Spa com os seus jardins
impecavelmente arranjados. Depois vamos até à lagoa das Furnas, que também
consta entre as maiores lagoas da ilha.
A lagoa das Furnas é famosa pelas suas conhecidas fumarolas onde se
preparam os tradicionais cozidos à moda dos Açores. Junto à zona das caldeiras
há vários poços na terra onde os restaurantes da região colocam grandes panelas
para fazerem o cozido à Portuguesa. Cada restaurante tem uma placa com o nome
para identificarmos e para publicitar o seu estabelecimento. Conseguimos
identificar alguns que já vimos durante o passeio pela povoação das Furnas. Os
restaurantes vem aqui preparar a refeição e depois servem aos clientes na
povoação. Aqui não há qualquer estabelecimento.
Junto às águas há diversos bancos construídos com troncos de madeira
natural, como que aproveitando os desperdícios da mãe natureza. Tiramos algumas
fotografias com a grande lagoa como pano de fundo. Também é possível alugar uns
barquinhos para navegar na lagoa. Mais no interior, majestosas árvores com as suas raízes espalhadas à superfície embelezam á área envolvente à lagoa. A fome começa a apertar e os borrifos de
chuva que aparecem de repente são o convite perfeito para irmos procurar
almoço. Não somos apreciadores de cozido. Somos mais gente de peixe e como aqui
nas redondezas não se pesca temos de ir até à costa procurar um bom peixe
fresquinho. Assim decidimos ir até Povoação uma vila na costa sul de São
Miguel.
Chegados a Povoação damos uma volta pela vila que não tem muito movimento.
Passamos pelo porto de pesca, pela câmara municipal e estacionamos num jardim
perto do centro, que dá acesso a uma rua pedonal. Há por ali vários
restaurantes. Procuramos uma especialidade da região que é o bife de Albacora,
um peixe da família do atum. No restaurante Jardim dizem-nos que têm o pitéu e
é ai que ficamos. Sentamos na esplanada exterior onde passado pouco tempo
degustamos o famoso bife. É muito parecido com o bife de atum e vem servido com
um toque caseiro. Categoria, diria eu! De comer e chorar por mais...
Depois do almoço as minhas senhoras decidiram ir novamente a um minimercado
ali perto. Andam loucas com os queijos e com as cervejas pretas! Eu fiquei com
a Nikky no jardim e descobri que no lado oposto da estrada há um pequeno parque
Zoológico. A princípio parecia apenas mais um jardim com umas gaiolas com
pássaros, mas tem diversos animais: pavões, papagaios, patos e até macacos. Foi
uma boa maneira de passarmos o tempo. A Nikky gosta sempre de uma boa bicharada
e eu também. As senhoras voltaram das compras todas contentes com mais
“queijinho”, ananás e umas “bejecas” para a noite. Quem diria!
Voltamos às Furnas. Passamos no miradouro do Pico do Ferro para uma vista
panorâmica da lagoa das Furnas e depois descemos até ao centro. Fomos até ao
parque Terra Nostra e no caminho encontramos uma pequena queijaria que faz uns
queijos tradicionais com vários sabores, alho, tomilho, entre outros. Quando
chegamos ao final da tarde já estava prestes a fechar, mas lá nos deixaram
entrar. Provamos de tudo e compramos alguns queijos para levar para o
continente. O parque Terra Nostra já estava fechado quando chegamos.
O sol já se pôs e conforme tínhamos planeado é hora de ir à Poça da Dona Beija. Este é
um dos pontos imperdíveis numa visita à ilha de São Miguel. O horário de
abertura é das 07:00 às 23:00 por isso completamente ajustável a diversos
visitantes. Tinham-nos falado muito bem da Poça e que à noite a experiência é
fantástica. Depois de aproveitarmos o dia para passear nada melhor do que
relaxar nas águas termais. O complexo é constituído por 5 áreas termais,
piscinas alimentadas com uma mistura de água termal e água da ribeira.
As
piscinas tem temperaturas diferentes que variam entre os 28 e os 33 graus
Celcius. Tem muita gente mas há espaço para todos. Decidimos entrar logo numa
das primeiras piscinas junto à entrada que por sinal é das que tem a água mais
quente. A noite está agradável, mesmo quando estamos fora de água. O ambiente é
muito relaxante e as cascatas espalhadas pelas piscinas permitem-nos massajar o
corpo. Passamos de uma piscina para a outra entre um arrepio ou outro mas nada
que nos demova. Entretanto caiem mais uns borrifos de chuva para condimentar a
noite já saborosa. Estamos todos regalados. Podíamos ter vindo aos Açores só
para isto que já tinha valido a pena.
Vou até à zona termal da Ribeira onde os banhos são mais amenos, pois a
água fresca da ribeira junta-se à água termal quente. Aqui a água apenas atinge
os 28º, portanto um gelo para quem vem das outras zonas termais. Consigo
convencer a Marisa a vir comigo. A Lucy e a Lourdes não querem mais sair dos
caldos e a Nikky está vermelha que nem um tomate. Na zona da Ribeira podemos
fazer um banho temperado. Se nos aproximamos da nascente termal, a água está
mais quente. Se nos aproximamos da Ribeira a água fica mais fria. Assim
controlamos a temperatura a nosso belo prazer. Acaba por ser um refrigério
agradável.
Depois de elucidar sobre todos os benefícios terapêuticos dos banhos
quentes/frios, lá consigo convencer os restantes a virem até à zona da Ribeira.
Para a Nikky foi mesmo um bálsamo refrescante, não fosse o tomate fermentar.
Assim todos nos refrescamos na ribeira para baixar um pouco a temperatura do
corpo. Mas como as senhoras gostam é de calor, lá voltamos às piscinas de água
mais quente e nunca mais voltaríamos à Ribeira.
Ficamos quase até à hora do fecho. As pontas dos dedos estão todas
enrugadas e o corpo está tão relaxado que só pede cama. Demos um banho à Nikky
de chuveiro para ela não ficar com resíduos termais na pele mas nós ficamos
mesmo assim. Isto não há de fazer mal. É de facto uma experiência a não perder.
Segundo reza a história a Poça também é conhecida como “Poça da Juventude” ou
“Poça do Paraíso”. Não sei se depois disto ficamos mais novos ou não mas tenho a
certeza que no paraíso há banhos destes.