Dia 1 - sexta
Saímos de Phnom
Penh às 02:30 pm depois de uma manhã de trabalho na universidade. O ponto de
encontro é nas instalações da missão adventista em Toul Kork. No Tico 1 vou eu,
o Stephen, a Marisa, a Sophany e a Rithya. No Tico 2 vai o Rotha, a sua esposa Peach e o irmão mais novo Bora,
o Socheat e o Chen. Assim que conseguimos enfiar tudo e
todos nos carros, partimos.
A saída da cidade é
tranquila e a estrada não é má por enquanto. Passados 15 minutos de viagem o
alcatrão mal enjorcado consegue transformar-se num piso ainda pior de terra batida
com crateras tão grandes que lá cabe um carro, especialmente se for um Tico. E
ele há buracos suficientes para os dois Ticos!
Acabamos de passar
o rio Tonle Sap. Estamos a cerca de 15 Km de Phnom Penh mas parece que já
andamos 100 Km. Depois de um troço rigorosamente mau voltamos ao alcatrão e a
um piso consideravelmente aceitável.
Fazemos uma paragem
em Kampong Thom para almoço e para esticar as pernas. Vamos também ao mercado
comprar alguma fruta para a viagem. Enquanto isso os carros ficam a arrefecer
que bem precisam.
Voltamos à estrada
e em pouco tempo estamos no meio de uma paisagem de arrozais. A luz a refletir
na água cria imagens peculiares e à medida que o sol se põe a paisagem ganha
contornos sublimes. O alcatrão não dura muito e passamos novamente à terra
batida com buracos por todo o lado. O Tico 2 segue na frente, pois os locais
conhecem o caminho. No Tico 1 o volante está com o Stephen. Conduzimos em
grande velocidade, na medida do possível. Com as limitações naturais dos
veículos e das condições da estrada vamos a uns vertiginosos 90 km/h! Eu acho
que estamos a exagerar e a abusar da sorte.
Começa a anoitecer e
com a escuridão surge também uma inesperada fumarada à nossa frente. O Tico 2 começa
a queimar óleo e o motor a fazer mais barulho do que o normal, como que a
resmungar da estrada a que o estamos a obrigar. Encostamos numa estação de
serviço que já está a fechar e compramos um garrafão de óleo para atestar no
motor. Seguimos viagem.
No Tico 1 temos
cada vez menos luzes e o carro agora começa a falhar até o motor se desligar
completamente. Encostamos à beira da estrada e arranjamos uns cabos eletricos
numa loja ali improvisada para também nós improvisarmos uns cabos para carregar
a bateria do Tico 1. Neste país a arte do improviso é uma instituição. Juntamos
os cabos ao Tico 2 e esperamos algum tempo para a bateria carregar. Passado um
bocado, voltamos à estrada, agora sem qualquer luz no carro. O alternador não
está a carregar a bateria. Colocamos os telemóveis nos selfie stiks e esticamos os braços pelas janelas para podermos ver
alguma coisa. Continuamos a improvisar agora já por uma questão de
sobrevivência. Dirigimos a uma velocidade constante para evitar que o carro vá
abaixo.
Passados uns poucos
de quilómetros voltamos a parar, agora à beira de umas casas. Já passam das
11:00 pm, tardíssimo aqui no Camboja. Os moradores meio ensonados vêm à rua ver
o que se passa. Abrem o portão do quintal para levarmos os carros para dentro.
Metemos a bateria à carga novamente. Enquanto carrega, sentamos nuns bancos de
pedra com uma mesa ao centro. Os jovens simpáticos trazem-nos garrafas de água.
Depois de mais uma “carregadela”, regressamos à estrada por mais uma meia dúzia
de quilómetros até que voltamos a parar. Decidimos mudar de estratégia.
Amarramos uma corda
à traseira do Tico 2 e à parte frontal do chassis do Tico 1 e vamos de puxão. Seguimos
por mais uns quilómetros puxados pelo Tico 2 cujo motor mal dá conta do recado. A corda parte-se, mas nós
fazemos um remendo e seguimos viagem por mais uns quilómetros ... ou metros, já
nem sei!
Os nossos amigos em
Siem Reap já estão preocupados e decidem vir ao nosso encontro. Chegam num
Toyota RAV4 (um carro decente finalmente) e trazem águas e uns bolinhos
deliciosos de canela. Estamos esfomeados. Atamos a corda do Tico 1 à traseira
da RAV4 e seguimos. A corda volta a partir quando já estamos às portas de Siem
Reap. Remendamos mais uma vez e continuamos até que finalmente chegamos a casa
da família. O Tico 1 morreu. O Tico 2 apesar de tudo, conseguiu sobreviver.

Está toda a gente à
nossa espera. Já passa da 01:00 am. A esta hora é impensável alguém estar
acordado no Camboja. Oferecem-nos uns pãezinhos e mais bolinhos de canela.
Depois da ceia, distribuímos o pessoal pelos quartos. As senhoras ficam todas
juntas num quarto de alvenaria com uma cama de casal e um colchão no chão,
enquanto os rapazes se dividem pela casa de madeira. Eu durmo nume estrado de
bambu com um tapete por baixo a servir de “colchão”. Depois de instalado fecho
a rede de mosquiteiro e viro-me para o lado. Estou tão cansado que em menos de
nada parece que estou no Hilton.
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