Dia 3 – domingo
De manhã cedo
levamos as senhoras a uma transportadora para seguirem viagem para Phnom Penh
de carrinha expresso. A nossa amiga Davina chega ao aeroporto de Phnom Penh às
05:00pm e a Marisa tem de lá estar à espera dela. Eu fico para traz
com os rapazes. Tomamos o pequeno almoço com a família. Hoje temos uma espécie
de papa de arroz feita pelo chefe da família.
Passamos a manhã no
mecânico a arranjar os carros. O Tico 1 leva um novo alternador e mais uma
série de reparações. O Tico 2 também sofre alguma manutenção. O que nos safa é
termos o Rotha connosco que se vai entendendo com o mecânico, se não havia de
ser bonito!

Esta é a minha segunda experiência com mecânicos aqui no Camboja e
nem por isso deixou de ser alucinante. Como já referi, impera a lei do
improviso. Tudo se transforma, nada se perde. Certamente um bom principio, mas
não quando temos 320 km pela frente numa viagem que supostamente se faz em 5h30
mas que da última vez que me lembro levou quase 12h.
Por volta do meio
dia e depois de muitas peripécias os carros ficam prontos. Vamos carregar as
coisas a casa da família e antes de partirmos oferecem-nos o almoço. Saímos por
volta da 01:00 pm. Assim que saímos da cidade começa a chover intensamente e
vamos com mais cuidado para ver se os carros desta vez aguentam até ao final. A
meio da viagem o Tico 2 começa novamente a deitar fumo e a aquecer. Paramos
várias vezes para arrefecer o motor com garrafas de água.
Seguimos viagem a
velocidade reduzida para não abusar do motor do Tico 2 e entretanto cai a noite. Continuamos a
avançar muito lentamente e o motor cada vez faz mais barulho. Por esta altura já
algum cilindro se reformou. A esta velocidade nunca mais vamos chegar a Phnom
Penh. Equaciona-se puxar o Tico 2 até à capital mau eu digo que não é boa ideia
pois vamos demorar imenso tempo e arriscamos não chegar com nenhum Tico.
Decidimos deixar o
carro para traz em algum lugar para alguém vir buscar no dia seguinte.
Perguntamos numa bomba de gasolina se podemos estacionar por ali mas não querem
assumir essa responsabilidade. Dizem-nos que há uma oficina mais à frente onde
talvez possamos deixar o carro. Tentamos ai mas o dono também não nos quer guardar
o carro. Diz-nos para irmos à esquadra da polícia e pedir que nos guardem o carro
lá.
A ironia da
situação é que andamos a viagem toda a evitar encontros com a polícia pois nem
eu nem o Stephen temos carta de condução local. No Camboja é obrigatória uma
carta local para conduzir. Não aceitam as cartas de condução de outros países nem
a carta internacional. Se formos mandados parar sabemos que resolvemos a
questão com menos de 5$. Agora temos de ir deliberadamente ao encontro da
polícia! Chegamos à estação mas não está ninguém disponível. Dizem-nos para
esperarmos um pouco que o chefe deve estar a chegar. Deve ter ido beber um
copo. Enquanto esperamos questionamos se esta será a melhor opção. Fazermo-nos
de novo à estrada até Skun, uma cidade não muito longe dali que fica a 80 Km de
Phnom Penh. Voltamos à estrada muito lentamente. Andamos por mais meia hora até
chegarmos a Skun. Ai decidimos que iriam ficar duas pessoas na cidade com o
Tico 2 enquanto os restantes seguem para Phnom Penh no Tico 1. O Rotha e a sua esposa Peach ficam
numa guesthouse an cidade enquanto nó
vamos buscar alguma coisa para comer antes de nos fazermos à estrada no Tico 1.
Pego no volante e
voltamos à estrada pouca iluminada, como quase todas as estradas no Camboja,
com pessoas constantemente a circularem nas bermas. As luzes do Tico 1, mesmo
depois da reparação, continuam a deixar muito a desejar e algumas partes do
caminho são verdadeiramente assustadoras. Passamos por umas crianças a brincar
no separador central da via, mas só as vejo quando me passam ao lado da janela!
As vacas que deambulam pelos campos são outro dos perigo, quando decidem vir
até à estrada. É preciso concentração constante. A cereja em cima do bolo é o
troço à entrada de Phnom Penh, com umas obras terríveis com crateras colossais
capazes de engolir um carro, especialmente um Tico. Para além das crateras não
vale a pena desviarmos de mais nada, porque tudo são buracos. O carro anda num
constante reboliço com os amortecedores da darem o que têm e o que já não têm.
Ainda assim sou a única pessoa acordada no carro. Ao meu lado o Socheat dorme que nem um rei a fazer a sesta ao
final de tarde. No banco de trás também não se passa nada.
Quando chegamos às ruas iluminadas da cidade é um alívio. Chego completamente exausto! Não via a hora de chegar a casa. A Marisa
já está com a Davina. Ela acabou de chegar da outra parte do mundo, mas eu que
vim ali de cima, estou muito mais extenuado. Ao jetleg dela eu chamo um figo. Ao fim de muitas
horas terminou uma aventura que estava predestinada a correr da forma como
correu e o mais burlesco é que todos nós sabíamos disso! Enfim... à coisas na
vida que temos de fazer só porque sim.
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