Depois de termos
explorado a capital Tailandesa durante alguns dias, é chegada a altura de
partirmos à descoberta de outras paragens menos movimentadas. O nosso primeiro destino é a cidade histórica património da UNESCO de Ayutthaya, a 85
quilómetros a norte de Banguecoque.
Saímos manhã cedo
do hotel para apanharmos o Sky Train até Moh Chit, a norte de Banguecoque.
Junto à estação fica o famoso Chatuchak Weekend Market, um aglomerado de
barracas que visto de fora quando está fechado roça o assustador. Segundo o
especialistas é um dos melhores mercados para comprar roupas e outros itens,
mas como se depreende pelo nome só funciona ao fim de semana. Sorte a minha que
estamos num dia de semana, caso contrário seria paragem obrigatória. Fomos então
até à estação de comboio de Bang Sue, uma pequena estação afastada do centro da
cidade por onde passam todos os comboios que seguem para o norte do país.
Bang Sue parece uma
estação parada no tempo. Situa-se num descampado mas não deve permanecer assim
por muito tempo, pois ao redor já se prepara terreno para qualquer construção.
Provavelmente mais um shopping! Apesar do aspeto descuidado e de certa forma
esquecido pela cidade encontramos um ambiente simpático. Dois oficiais dos
caminhos de ferro esperam-nos no guiché para comprarmos os bilhetes. Explicamos
para onde pretendemos ir. Conversando num Inglês muito perceptível dizem-nos
que podemos ir em 2ª classe ou 3ª classe. Estes comboios não têm 1ª classe!. A
diferença da 2ª para a 3ª é que uma tem lugares marcados (2ª classe), a outra
não. Claro que optamos pelo bilhete em 3ª classe e será o salve-se quem puder.
O pior que pode acontecer é termos de fazer a viagem de 3 horas em pé. Pagamos
a módica quantia de 14 Baht por pessoa (0.42$).
Todas as
recomendações que temos visto sobre viajar na Tailândia dizem para se evitar os
comboios porque não são fiáveis em termos de horários, são demorados nas
viagens e não são tão flexíveis como os autocarros ou os minibus. São apenas
mitos urbanos! O comboio é um fantástico meio de transporte até na Tailândia.
Se não vejamos... Claro que não chega à hora marcada. O nosso chegou com cerca
de meia hora de atraso. Entramos no comboio e procuramos um lugar para nos
sentarmos. No comboio veem já muitos turistas que entraram em Hua
Lamphong a estação central de Banguecoque e que provavelmente vão para os mesmo
sitio que nós. Lá encontramos lugares para nos sentarmos e passado pouco tempo
de nos instalarmos aparece um oficial de bordo (o pica) que em alta voz avisa
todos os passageiros que seguem para Ayutthaya para mudarem de comboio! Não
somos os únicos a achar estranho mas lá vimos um comboio na outra linha e
mudamos todos, seguindo a informação que nos chega do simpático senhor. Voltamos
a procurar lugares para nos sentarmos para a longa viagem e lá nos instalamos à
vontade. Finalmente iniciamos a marcha. Saímos da cidade passando pelo
aeroporto de Don Mueang após o que entramos num ambiente mais rural, mas ainda
assim pautado pela construção do que parece ser uma estrada que acompanha a
linha do comboio.
Ao longo da viagem
vamos parando em alguns apiadeiros pelo caminho, num dos quais entram duas
enhoras que se sentam ao nosso lado. Os bancos em que estamos, de frente um
para o outro, dão para uma pessoa se sentar à larga, mas para duas pessoas já
fica à justa, mas as senhoras não se importam, pois querem é sentar-se.
Compreensível, pois sabe-se lá quantas horas de viagem têm pela frente! Uma
mais nova que a outra, talvez mãe e filha, a mais velha senta-se ao meu lado e
em menos de nada ferra-se a dormir sem se incomodar com a minha presença.
Ajeito o meu ombro esquerdo não vá a senhora precisar de um amparo e lá
seguimos viagem enquanto apreciamos a paisagem pela janela. A refrigeração do
comboio é feita pelas janelas abertas com o auxílio de umas ventoinhas
penduradas no teto da carruagem. Nada que nos impeça de fazer uma viagem
tranquila e confortável.
Ao fim de duas
horas de viajem chegamos a Ayutthaya. Afinal viemos num comboio expresso, por
isso demoramos menos uma hora do que o previsto. Na estação deixamos as malas
para não andarmos o dia todo carregados e informamo-nos logo dos horários para Muak
Lek o nosso próximo destino. O último comboio sai às 17:00. São cerca das 12:00
por isso temos tempo para visitar a cidade com calma. À saída da estação estão
logo montes de senhores simpáticos que nos oferecem os seus serviços, ou não
fosse esta uma das principais atrações turísticas do país. O que nos salta
imediatamente à vista são os modelos de tuk tuk’s da cidade. Diferentes de
todos os que vimos até então, têm um aspeto simpático e colorido com a frente a
fazer lembrar um golfinho nariz de garrafa.
No lado oposto da
estação tem uma rua que vai dar ao rio, que separa a parte da cidade que fica
numa ilha e onde estão concentrados a maior parte dos complexos de templos.
Sabemos que há um pequeno barco que faz a travessia por uma irrisória quantia
mas nessa mesma rua também tem vários restaurantes que alugam bicicletas e
motas. Acabamos por alugar uma mota para o dia para termos maior mobilidade e
perdermos menos tempo. Desta vez escolhemos uma scouter Honda Fino. Passamos a
ponte que dá acesso ao centro de Ayutthaya e as placas informativas com os
nomes dos vários complexos sucedem-se ao longo das largas avenidas da cidade.
Não temos tempo para visitar todos os templos por isso temos de fazer uma
seleção do que queremos ver. No local onde alugamos a mota deram-nos uma folha
com um mapa feito à mão com as principais atrações.
Seguimos para o Wat Maha That, a mais famosa imagem da
cidade com a cabeça do buda na árvore. A maior parte das cabeças de buda foram
levadas durante as invasões birmanesas como troféus. Esta é uma das poucas que
resta. Para além da cabeça fazem parte do complexo várias ruinas de templos de
relevante interesse histórico não só para a Tailândia mas também para a
humanidade. Depois de passearmos e apreciarmos as ruinas fizemos uma geocache
que está no interior do recinto, a primeira na Tailândia.
O Wat Maha That fica junto a um grande parquet
verde com um lago que só por si merece uma visita. Passamos pelo parque onde
encontramos mais algumas ruinas “perdidas” que devido à fartura nem sequer
merecem uma referência e onde encontramos mais umas geocaches. Encontramos
várias pela cidade.
Como não temos muito tempo, passamos por outros complexos
mas não entramos. Conseguimos ter uma ideia só vendo por fora e também acabam
por ser todos parecidos. Para ver todos os templos com calma é necessário passar
pelo menos um dia só dedicado a essa atividade. Temos meio dia para visitar
toda a cidade e queremos visitar outras coisas para além dos templos.
Fazemos
um passeio de mota pela cidade até ao palácio dos elefantes, nome no mínimo
irónico.
Ora aqui está uma daquelas atrações turísticas que nunca o deveriam
ser, mas claro está, os maiores culpados são os turistas que alimentam estas
atividades. Uma das imagens de marca da Tailândia são os passeios de elefante
que se fazem um pouco por todo o país.

Esta cidade como um dos principais
destinos turísticos do país, não pode deixar de disponibilizar esta atividade.
Então encontramos os elefantes amestrados a andar de um lado para o outro no
passeio à beira da estrada com os turistas “ao colo” numa espécie de trono com
um chapéu de sol para não aquecerem. Quando não estão com os turistas estão com
o seu “chofer” que passa o dia a dormir em cima do elefante à espera de mais
turistas. No “palácio” ainda vimos um elefante pequeno que está preso pela
perna a uma corrente no chão e que faz as delícias dos turistas que por ali
passam. Esta é a forma de educarem os animais para quando forem crescidos se manterem
submissos, pois na realidade se quisessem rebentavam a corrente com a maior
facilidade do mundo. Pessoalmente não acho piada a esta exploração dos animais,
ainda que digam que os animais não são mal tratados. Não posso dizer se maltratam os elefantes ou não, mas isso
depende do que consideramos “maus tratos”. Para mim isto já é “mau trato” que
baste. Mas enfim, há quem pague para isto!
Depois de passearmos um bom bocado pela ilha voltamos para o lado da
estação de comboio e fomos até ao mercado flutuante de Phra Nakhon. Na
realidade é mais do que um mercado é uma aldeia flutuante. A aldeia fica num
complexo do qual faz parte também um parquet de elefantes, onde se pratica
exatamente a mesma atividade que atrás referi. Esquecendo os elefantes,
passemos ao mercado.
A aldeia é um complexo com cerca de 200 lojas onde se
vende desde roupa, artesanato, arte e cultura como também comida, muita comida,
como não poderia deixar de ser. Quando chegamos estão a chegar também crianças
de uma escola local que vem visitar a aldeia. Por estranho que pareça não vimos
muitos turistas, parece mesmo que a maior parte dos visitantes são Tailandeses!
Talvez também por isso a aldeia tem outro encanto.
Enquanto caminhamos pelas
plataformas de madeira os barcos atracados fazem de lojas vendendo de tudo um
pouco. Num dos barcos compramos uns bolos que o rapaz faz ali na hora.
Prepara-nos um sortido com vários sabores, banana, coco e chá verde, que ainda
vêm mornos. Servem-nos de snack enquanto passeamos pela aldeia.
Para passarmos
de umas seções para as outras temos de atravessar várias pontes. No centro da
aldeia tem um espaço amplo coberto, como um grande salão de conferencias ou
festas, para onde existem pontes de várias partes da aldeia. Enquanto passeamos
ouvimos música em alto volume dali proveniente e quando chegamos ao local
percebemos que tinha acabado uma espécie de peça de teatro. Os espectadores
estão a tirar fotografias com os atores. É portanto uma espécie de Broadway
aqui na aldeia. Outra forma de visitar a aldeia é nuns pequenos barcos que
cruzam os pequenos canais. Vimos alguns turistas a passear dessa forma. A
aldeia não é muito grande e é mais agradável passear a pé, pois parte da piada
é visitar as várias lojas. Pela aldeia estão espalhados vários exemplares de motas
clássicas e bicicletas antigas em exposição, o que não deixa de ser curioso no
meio de tanta água. É um local que vale a pena visitar. Especialmente se
passarmos mais do que um dia em Ayutthaya acaba por servir para desenjoar dos
templos.
Terminamos a visita
a Ayutthaya por volta das 16:00 mas antes de partirmos ainda temos tempo para
um almoço/lanche num dos restaurantes junto à estação. Temos de nos alimentar
porque vamos ter uma viagem de comboio de pelo menos três horas até Muak Lek.
Como não sabíamos extamente a que horas
nos despachávamos não compramos logo os bilhetes. Agora quando vamos para
comprar dizem-nos que só têm um bilhete em 3ª classe (a nossa classe de
eleição). Assim temos de comprar um bilhete em 3ª e outro em 2ª classe.
Esperamos que depois no comboio se arranje um lugar para os dois e de
preferência juntos.
Depois de alguma
espera para além da hora marcada, eis que chega o comboio. Antes do nosso que
segue em direção a norte já passou o comboio com destino a Banguecoque que
levou uma pare dos passageiros. O movimento na estação ainda é grande com
turistas e estudantes devidamente fardados que regressam a casa depois de um
dia de aulas. Parece que agora vamos todos no mesmo comboio. Quando entramos já
o comboio está praticamente cheio. Seguimos para a carruagem que temos no
bilhete de 2ª classe e procuramos o lugar que nos está reservado (pelo menos a
um de nós). Encontramos o lugar ocupado por uma jovem acompanhada de um jovem
no lugar ao lado. Dizemos que um deles é o nosso lugar. Pelo menos um de nós
vai sentado, a Marisa claro. A jovem rapidamente muda de lugar e o jovem que ia
no lugar ao lado simpaticamente cede-me o seu lugar. Assim vamos os dois
sentados juntos. Á minha frente em pé, vai o simpático jovem. Á minha frente e
na nossa fila. Sorte que as filas são largas e tem espaço para todos. O comboio
segue viagem apinhado de gente, uns em pé, outros sentados, uns à janela,
outros à porta a apanhar ar. Sim porque aqui as portas do comboio não se fecham
automaticamente. Isso são procedimentos de segurança ocidentais que aqui nesta
parte do mundo fazem pouco sentido. Ao longo da viagem estão constantemente a
passar pessoas a vender tudo e mais alguma coisa para comer e beber. Entram
numas estações e saem nas outras e o que é facto é que ninguém precisa de
passar fome no comboio. Ora fruta, ora noodles, ora espetadas de sabe-se lá o
quê, há fartura de comida e bebida para toda a minha gente.
Durante a viagem
conhecemos um jovem casal Francês que seguia nos bancos ao nosso lado.
Contam-nos que andam a passear/viver pela Ásia à um ano. Estão uma temporada
num local, arranjam trabalho que lhes dê alimentação e dormida e quando se
cansam ou quando o trabalho termina seguem para o próximo destino. Já correram
todo o sudeste Asiático e ainda não tem planos de voltar à europa. O próximo
destino depois da Tailândia é Phnom Penh. Trocamos contactos, pode ser que
ainda nos encontremos por lá. Chegamos à estação de Muak Lek e não fora o
oficial de bordo, íamos tão entretidos na conversa que continuávamos a viagem.
Saímos do comboio
já era noite fechada e temos um contacto de uma jovem de Phnom Penh, a Keo Sophany,
que ficou de nos vir buscar à estação.
Conhecemo-nos através de amigos e ela ficou de nos arranjar alojamento na Asia-Pacific International
University (APIU) onde ela estuda e onde vamos passar o dia com outros
jovens do Camboja e não só. Os passageiros que saíram connosco vão às suas
vidas mas o nosso contacto não está. Tentamos ligar para ela, o número chama
mas ninguém atende. Depois de algumas tentativas decidimos pôr-nos ao caminho e
tentar apanhar um tuk tuk ou um táxi para o campus. A cidade está praticamente
deserta e nem sinal de uma coisa ou outra. Caminhamos pela estrada principal na
direção do campus mas sabemos que não podemos fazer o percurso a pé porque são
pelo menos 5 Km’s. Seguimos na esperança
de encontrar algum tuk tuk. Paramos num pequeno restaurante Japonês, um dos
poucos locais que parece ainda estar em funcionamento e perguntamos onde podemos
apanhar um meio de transporte. O rapaz que nos atende diz-nos que aqui não há
Tuk Tuk’s. Isso só nas grandes cidades e que táxis também não, muito menos a
esta hora da noite. Passa pouco das 20:00! Explicamos então para onde vamos e o
que nos tinha acontecido e como podemos chegar até à APIU. Os únicos clientes do restaurante são um
jovem casal que por sinal estudam na universidade mas não se mostram muito
interessados em ajudar-nos. Pelo contrário, o rapaz do restaurante diz-nos que
nos pode lá levar mas temos de esperar até às 20:30, hora a que ele fecha o
restaurante. Não temos muitas alternativas e o sitio até é agradável. Sentamos
numa das mesas pedimos umas bebidas e ligamos a WI-FI tentando enviar uma
mensagem à Keo Sophany, desta vez pelo Facebook. Enquanto nos refrescamos
esperamos por um contacto de volta, mas o mesmo nunca chega a acontecer. Já
perto da hora do fecho do restaurante decido ir novamente até à estação para
ver se lá está alguém à nossa espera. Quando chego vejo um casal de jovens que
parecem estar à espera do comboio, mas a estas horas já não deve haver
comboios. O único contacto que tive com a jovem foi através de chat e as
fotografias nas redes sociais nem sempre nos ajudam a reconhecer as pessoas,
por isso não tenho a certeza se alguma destas pessoas é o meu contacto. Para
além do mais são duas pessoas. Tento mais uma vez ligar para o número dela
quando finalmente vejo a jovem na estação a tirar o telemóvel da mala. Afinal
são mesmo eles que estão à nossa espera. Atrasaram-se e depois como vinham de
mota ela não conseguiu ouvir o telemóvel. Seguimos para o restaurante para
apanhar a Marisa e agradecemos ao rapaz a amabilidade em nos ajudar. Queremos
pagar a conta mas ele recusa o dinheiro e diz que é oferta da casa. Por
momentos ele foi a nossa única luz nesta terra longínqua. Felizmente que ainda
há muita gente boa no mundo.
Depois das
peripécias da chegada lá fomos para a APIU que ainda fica longe da cidade.
Seguimos nas motas pela estrada deixando a pequena cidade de Muak Lek para
trás. O campus fica no meio do nada e como chegamos de noite não temos
percepção do meio envolvente. Levam-nos para uma das casas de hóspedes do
campus e depois de deixarmos as malas fomos até à casa do professor Ted Chew
onde um grupo de jovens estava reunido. O professor Chew é proveniente da
Malásia mas de origem Chinesa. Recebe-nos simpaticamente na sua casa com a sua
esposa onde somos apresentados e contamos como chegamos até aqui para passar o
dia com esta gente muito amável. Depois de alguns bons momentos de conversa
recolhemos à nossa casa para descansar.
No dia seguinte
acordamos com o barulho dos pássaros, coisa que já não acontece desde que
saímos de Portugal. Em Phnom Penh temos o barulho das motas e dos carros e em Banguecoque
o ensurdecedor barulho dos Tuk Tuks que mal nos deixam dormir. Aqui estamos no
céu, ou quase. A Keo Sophany leva-nos até à cantina onde tomamos o pequeno
almoço. A APIU como o próprio nome indica é mesmo uma universidade
internacional, nada como grande parte das universidades em Phnom Penh que de
internacional só o nome. Durante o dia que passamos na APIU tivemos
oportunidade de conhecer jovens da Tailândia, do Camboja, de Myanmar, da
Malásia, da China, do Egito e até do México. Conhecemos ainda um casal da Costa
Rica, o marido é professor temporário na universidade. Ao longo do dia
passeamos pelo campus, participamos em algumas das atividades e ainda tivemos
tempo de fazer uma caminhada pelo bosque.

Ao final da tarde voltamos a Banguecoque
de mini-van. Chegamos ao Victory
Monument sem hotel marcado. Vamos até um café com WI-FI para tomar qualquer
coisa e reservamos um hotel para as próximas noites. Desta vez vamos ficar na
zona de Sukhumvit. É para lá que
seguimos no Sky Train.
Vídeos relacionados: