Um passeio pelo deserto: Dia 5 – Merzouga

Dia 5 – Merzouga
Nasce o sol no deserto. Acordamos pela manhã e espreitamos curiosos pela janela. Lá fora, o laranja das dunas mostra-nos um quadro perfeito do deserto e já começam os preparativos para o pequeno almoço na “esplanada” com vista para o deserto, porque aqui todas as vistas vão dar ao Erg Chebbi. Da ementa fazem parte as saborosas panquecas acompanhadas de sumo de laranja natural. Hoje o planos para o dia é fazer o passeio de 4x4 pelo Erg Chebbi. Fomos até ao centro de Merzouga onde negociamos um carro para nos acompanhar e levar metade do grupo. Assim saímos logo pela manhã, uns no NissanPatrol “português” e outros no Land Rover Defender “Marroquino” para desbravar o deserto.

Pelo caminho fomos encontrando uma grande variedade de atrações. Num spot paisagístico para fotografias encontramos umas crianças com pequenas raposas do deserto que  pousavam para as fotos a troco de alguns dirhams. De seguida seguimos pelos trilhos áridos do deserto passando por uma aldeia típica de bérbers até chegarmos às minas de Balite e Malaquite. Ai paramos durante algum tempo para apreciar os minerais e levar algumas pedras para recordação. As minas são a céu aberto e ainda são exploradas por alguns locais que aqui dedicam o seu tempo. Seguimos caminho entrando cada vez mais na imensidão do deserto, agora já com trilhos de areia solta. Chegamos até uma zona de fosseis, onde encontramos várias pedras fossilizadas, um deleite para as nossas recém proclamadas arqueólogas (esposas) que não descansaram enquanto não carregaram os carros com pedras de várias formas e feitios. Passamos aqui algum tempo e enquanto alguns revolviam o solo à procura de mais uma pedra, os outros decidiram descansar à sombra dos carros a comer tangerinas. Dos fosseis partimos com peso extra para o aeroporto militar que não é mais do que um estradão de areia firme no meio do deserto. Se o guia não nos tivesse avisado, nem tínhamos dado por ele, já que de aeroporto só tem mesmo a pista. Sorte que não precisamos de fazer check-in de bagagem porque naturalmente que não passávamos com tanto peso. Seguimos para uma das maiores atrações do dia, o Oásis no meio das dunas. Para lá chegarmos tivemos de conduzir por entre as dunas durante algum tempo e do local onde paramos os carros subimos uma duna enorme  de onde conseguimos avistar o Oásis “perdido” num vale de dunas. Ai estivemos durante algum tempo a desfrutar das vistas e da caminhada rumo ao topo para a apoteose que o Erg Chebbi nos reservou. A descida foi mais naturalmente mais célere. Enquanto que uns optaram pela descida tradicional a passo, outros menos ortodoxos optaram por vir a correr pela duna abaixo até que a areia os parasse. E de facto parou! Chegados junto das viaturas é tempo de seguir viagem. Mas o deserto ainda nos tinha reservado mais uma surpresa! Enquanto o Land Rover seguiu o seu caminho por entre as dunas, o Nissan Patrol, menos experiente nestes terrenos (não o carro, mas o condutor) teimou em não avançar caminho. Talvez o deslumbramento das dunas o tenha convencido a ficar! Depois de algumas tentativas para avançar, finalmente declarou-se o estado de “atascado”. Quando isto acontece, e pelos vistos é frequente por estas paragens, só há uma solução. Arregaçar as mangas e começar a retirar areia debaixo da viatura. Sorte que viemos preparados com pranchas que ajudaram “desatascamento”. Entretanto o Land Rover voltou atrás e  lá nos ajudaram a seguir caminho. Seguimos agora pelo lado do Erg Chebi, oposto a Merzouga ficando a vastidão de areia entre a nossa posição atual e a cidade. Daqui conseguimos avistar a fronteira com a Argélia e o Erg Znigui. Voltamos a Merzouga ao início da tarde.

De volta à cidade e depois de pararmos um pouco no auberge, decidimos carregar o carro com as pranchas de bodyboard e snowboard ir até à grande duna junto à cidade. Quando chegamos encontramos um grande movimento de gente que subia e descia a duna apreciando as paisagens aduzidas pelo generoso deserto.

Enquanto alguns ficaram a “surfar” eu e a Marisa decidimos subir até ao topo da duna para apreciarmos a vista e deixar a nossa pegada geográfica. Seguimos pelo trilho improvisado à passagem das pessoas antevendo desde a base o desafio que tínhamos pela frente até chegar ao topo. O sol começa a querer esconder-se e traçamos como objetivo chegar ao topo antes que ele se ponha. O Joel e o André  acompanham-nos neste desafio. Á medida que subimos, a extremidade da duna torna-se cada vez mais íngreme e difícil de subir.  A dada altura para avançarmos temos de recorrer às mãos para nos erguermos no areal solto e ascendermos no terreno.  Acresce a todo este esforço o facto de estarmos a carregar uma prancha de bodyboard connosco! Pelo caminho vamos parando para recuperar o fôlego e desfrutar da paisagem. 

Os locais e muitos turistas com quem nos cruzamos pelo caminho acham estranho o que carregamos e dizem-nos que para usarmos a prancha temos de ir mais para baixo. Não damos ouvidos aos conselhos e prosseguimos rumo ao cume. Depois de quase uma hora a subir, chegamos finalmente ao cume da duna. Ainda conseguimos apanhar uma réstia de sol que nos permitiu desfrutar da vista fabulosa de todo o Erg Chebbi. A partir daqui começa uma nova aventura. Contrariamente ao que os locais nos disseram pelo caminho, eu, o Joel e o André sentamos na prancha de bodyboard e escorregamos pela duna abaixo. Depois da penosa subida, a descida valeu todo o esforço e grama de areia que fomos acumulando pelo caminho. Sem qualquer intenção de protagonismo o nosso momento radical acabou por se transformar por breves instantes. num espetáculo para as pessoas que por ali caminhavam. Chegados à base da duna, junto do resto do grupo, ainda tivemos tempo para fazer um pouco de snowboard, desta vez de uma altura mais confinada às nossas capacidade atléticas. Regressamos ao carro já noite escura, tendo como único ponto de referencia a torre que se avistava ao longe na cidade.



Depois de um dia repleto de aventura, tomamos um refrescante banho e preparamo-nos para o jantar de ano novo preparado pelo mui nobre auberge África. O réveillon foi ao som de tambores bérbers, castanholas e ukelelés numa mixórdia de gentes lusitanas, castelhanas e magrebinas. Ao longo da noite fomos convidados por diversas vezes a intervir no espetáculo com a nossa música tradicional portuguesa e uma vez que não levamos nenhuma guitarra portuguesa para acompanhar o fado, recorremos à música popular com um “pimba” aqui e outro ali. Tudo isto para marroquino ver e acima de tudo, ouvir.

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