Dia 2 –
Médio Atlas
Acordamos em Rabat com um galo que teimou em cantar várias vezes
durante a noite até de manhã. O seu cantar sistémico e mesmo sincronizado
fez-nos desconfiar da natureza do galo. Tenho para mim que é algum tipo de
gravação que prepararam para chamar os fiéis à oração. Antes de deixarmos a
cidade saímos cedo do hotel para uma visita relâmpago. Afinal estamos na
capital Marroquina e custa-me partir sem conhecer a cidade, ainda que seja um
encontro efémero. De tão cedo que é, o comércio na Medina ainda está de portas
fechadas. Atravessamos a Medina, saindo da Avenida Mohamed V em direção ao mar,
onde o atlântico se junta ao Mediterrâneo. Chegamos ao extremo ocidental da
Medina onde encontramos um cemitério colossal com vista para o mar. Uma última
morada com vista privilegiada na cidade. Seguimos para o Kasbah des Oudaias, um
bairro murado com pequenas casas pitorescas e um jardim palaciano. Trata-se de
uma das principais atrações turísticas da cidade, famosa pelas suas ruelas
típicas e vistas para o Salet, a zona balnear de Rabat. Com o tempo a correr
contra nós, regressamos rapidamente para o hotel, passando na volta na Medina,
agora já em pleno funcionamento. Compramos alguns alimentos para a viagem que
seria longa.
Após reunido o grupo de novo no Hotel Splendid, saímos para um dos
maiores troços da nossa viagem com destino nas Gargantas do Todra (450 Km).
Saímos de Rabat pela avenida das embaixadas e depois de deixarmos a cidade para
trás encontramos as casas mais impressionantes que já vimos em Marrocos,
contrastando com alguns carros com que nos cruzamos na estrada que em Portugal
já tinham ordem de abate à muitos anos.
A viagem é longa através das estradas secundarias do Médio Atlas,
pois nesta parte do país ainda não há autoestradas. Passamos pela cidade de
Oued Zem onde fizemos uma curta paragem para esticar as pernas. Quando faltavam
cerca de 90 km para a aldeia montanhosa de Imilchil, a viagem começou a ganhar
uma nova dinâmica. A estrada praticamente deixou de o ser, dando lugar a uma
pista que apesar de alcatrão, na maior parte do trajeto está num estado tal
como ainda não tínhamos visto neste país. Seguimos a uma vertiginosa velocidade
de 40 Km/hora a subir a uma altura máxima de 2700m. A viagem leva-nos por
aldeias rústicas e pequenas povoações. Pena é que já vamos pela noite dentro.
Chegamos finalmente a Imilchil e como ainda tínhamos mais 70 Km pela frente até
ao hotel nas Gargantas do Todra seguimos viagem.
Imilchil fica no topo do Médio Atlas e a partir daí a viagem é
sempre a descer até ao desfiladeiro do Todra. Apesar da noite escura, apenas
interrompida pelos faróis dos nossos bólides, conseguimos ter uma pequena ideia
do que estamos a atravessar. Mas a nossa única ambição nesta noite escura é
chegar a bom porto, o hotel, para jantarmos e descansarmos. Ao fim de 9 horas
de viagem e muitos solavancos lá chegamos à “Maison D’Hote, Le Ciel Bleu“. O
staff do hotel estava na estrada à nossa espera quando chegamos. O hotel fica
no topo de uma colina e para nos ajudar com a bagagem disponibilizam um burro
que com um cesto duplo carregava as malas até ao topo. No interior estava tudo
preparado para a nossa chegada, uma vez que tínhamos ligado pelo caminho a
avisar com antecedência. Como de costume, fomos recebidos com o tradicional chá
marroquino. Depois de devidamente instalados nos nossos aposentos, fomos jantar
couscus preparado à moda Berber, comida caseira bem confecionada para uns
viajantes exaustos e famintos. O que melhor podíamos esperar? Ainda tivemos
energia para uns momentos musicais de convívio e um par de partidas de
“Os Lobisomens d'Aldeia Velha”. Foram todos apanhados, por isso já não há que ter receio nas
Gargantas do Todra e assim fomos todos descansar.

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