Chegou ao fim o congresso Pan-Europeu de jovens adventistas em Novi Sad. A participação no congresso foi a razão principal da nossa viagem até ao
Balcãs. Foram muitas as experiências que aqui vivemos e certamente o melhor que
levamos de toda esta epopeia. As memórias são muitas, marcantes e pessoais,
dignas de registo num outro contexto que não o de um simples viajante. Por essa
razão são omissas no relato desta expedição.
Saímos de manhã cedo pelas 7:00 do dormitório Car Lazar em Novi Sad,
onde um mini-bus da organização do congresso nos aguardava pra nos levar até ao
aeroporto de Belgrado. Tínhamos o carro de aluguer reservado para as 13:00, por
isso à hora que chegamos ainda não havia viatura disponível. Comemos alguma
coisa pelo aeroporto enquanto pusemos os emails
em dia. Recebi uma mensagem no facebook de um amigo na Roménia, o Adrien, que
nessa madrugada, às 5:00, me dizia que ia ter connosco a Novi Sad para nos
visitar! À hora em que li a mensagem, 09:00, já ele devia estar a caminho e eu
não tinha forma de o contactar. Ainda liguei para Portugal para ver se algum
dos nossos amigos em comum tinha o contacto telefónico dele, mas nada. A última
vez que eu tinha tido alguma notícia do Adrien, foi no final de julho, ainda
antes de vir para os Balcãs. Ele realmente tinha-me dito, que no sábado ou no
domingo ia visitar-nos mas como nunca mais disse nada, pensei que ele já não
tivesse planos de ir de Timișoara, a sua cidade, até Novi Sad . Mas não é que
foi!!! E agora como contactar com ele? Respondi-lhe logo à mensagem do facebook,
sabendo que ele só a iria ler quando estivesse de volta à Roménia. Disse-lhe
que já estava no aeroporto, de partida para Sarajevo e pedi-lhe para me dar o
número de telefone para eu lhe ligar mais tarde.
Estivemos a fazer tempo com outos amigos Portugueses do congresso que
esperavam pelos seus voos. Facto interessante é que nenhum dos Portugueses que
ali estávamos iria apanhar voo de regresso a Portugal Um grupo ia para Milão,
outro para Istambul para continuar a sua odisseia, e nós para Sarajevo. Apesar
de irmos duas vezes ao aeroporto de Belgrado, na íamos apanhar aqui nenhum voo.
Ao fim da manhã lá conseguimos levantar o carro e desta vez não tivemos
a mesma sorte que em Zagreb. Não houve upgrade
e o veículo que nos calhou foi exatamente o que reservamos: Chevrolet Spark,
azul metalizado! Mas tudo bem, cá nos iriamos arranjar e no final acabamos
mesmo por nos acomodar muito bem. Saímos do aeroporto em direção ao centro da
cidade, onde o Pablo e a Rita nos esperavam. Como eles ainda não tinham estado
em Belgrado, aproveitaram a manhã para uma visita relâmpago, enquanto nós
aguardamos pelo carro. Encontramo-nos na catedral de St. Sava, o tal templo
ortodoxo que da última vez não tínhamos tido tempo para visitar. O templo é
deveras imponente no exterior e uma marca indiscutível na cidade, mas a beleza
exterior não reflete o interior. Na verdade, apesar de parecer um edifício
histórico, o templo ainda está em construção. O interior ainda está “despido”
de ornamentação, totalmente cru. Também se pode tratar de uma remodelação, mas
se assim for é muito profunda. Com a pressa, nem nos lembramos de perguntar a
alguém. Mas não me parece, estou mais inclinado de que se trate de uma nova
construção.
Depois de sairmos de Belgrado, tivemos de nos fazer à estrada. Tínhamos
uma longa viagem até Sarajevo, na Bósnia. Pelo caminho paramos numa área de
serviço para almoçar e descansar um pouco. Afinal já estávamos a pé desde as
7:00. A Sérvia, fora de Belgrado tem pouco de atrativo, pelo menos na região
por onde passamos que são só planícies, plantações de milho e pouco mais.
Depois de sair da autoestrada ainda tivemos de dirigir alguns quilómetros por
estradas secundárias até à fronteira de Loznica, que se situa sobre o rio Drina.
O rio forma uma fronteira natural entre grande parte do território Bósnio com a Sérvia. Passamos a fronteira sem problemas, o que era à partida um bom
prenúncio, pois durante esta parte da expedição ainda viríamos a cruzar
fronteiras muitas vezes.
Já em território Bósnio, começamos a descer para Sarajevo, sempre
acompanhando o curso do rio Drina numa paisagem invejavelmente tranquila que
nos surpreendia a cada curva da estrada. Nesta parte da viagem, na qual
aproveitei para dormir um pouco (importa referir que não era eu que estava ao
volante), lembro-me de ter aberto os olhos por breves instantes e ver uma vaca
ao meu lado, na janela do carro. Na altura não percebi bem se estava a sonhar
ou se era realidade. Mas parece que se tratou mesmo de um momento da realidade
rural Bósnia. E assim entre os sonhos e a realidade fomos descendo até à
capital.
A aproximação à cidade faz-se por um desfiladeiro entre as montanhas
que cercam Sarajevo, pelo menos do lado em que chegamos, a norte. Vamos muito
bem a apreciar as montanhas e de repente, quando damos por isso, estamos no
centro da cidade. Como de costume, procuramos logo o hotel onde iriamos
pernoitar para descarregarmos o carro e só depois fomos conhecer a cidade.
Chegamos já ao fim da tarde ao hotel Itália que fica a cerca de 3 Km do centro
de Sarajevo. No hotel disseram-nos que a melhor maneira de irmos ao centro era
de táxi, pois o estacionamento é todo pago e difícil de encontrar. Para além
disso, o táxi fica por volta de 3€, o mesmo que pagaríamos pelo estacionamento.
Como o carro tem matrícula Sérvia, também não sabíamos se seria muito seguro
deixá-lo no centro. Deixamos o carro na garagem do hotel e fomos de táxi. Antes
de sair do hotel ainda perguntamos se era seguro andar por Sarajevo de noite,
ao que o recepcionista nos respondeu: “Claro que sim, isto aqui não é
Beirute!”. Ficamos todos mais descansados, afinal não sabíamos bem para o que
vínhamos. O pouco que sabíamos sobre a Bósnia era sobre a guerra do início dos
anos 90 e não era muito atrativo.
Em menos de 10 minutos chegamos ao centro da cidade e como não tínhamos
marcos Bósnios para pagar o táxi, pagamos com euros e devolveram-nos o troco em
marcos. Aqui toda a gente aceita euros (1€ = 2 Bam) e a taxa de conversão torna
as contas simples. O que interessa é fazer negocio, independentemente da moeda.
Descemos do táxi junto ao BB shopping center, um dos pontos de encontro na
cidade. Para começar a visita, o shopping é completamente moderno, em tudo
semelhante ao que estamos acostumados na Europa Ocidental. Na breve passagem
que fizemos pela cidade, antes de carro e agora de táxi, encontramos uma cidade
muito moderna e organizada, com arranha-céus, edifícios modernos ou imperiais à
mistura. Na verdade não sei bem que expectativas tínhamos para Sarajevo, mas o
que acabávamos de ver certamente contrariava algumas delas.
Do shopping caminhamos em direção à “Old Town”, a zona mais fervilhante
da cidade. Rapidamente passamos de uma arquitetura moderna para uma cidade de
fortes traços Otomanos, uma espécie de mini Istambul. Parece que viajámos no
tempo. Pessoalmente prefiro esta parte da cidade mais carregada de história. Ali
encontramos o pequeno comércio tradicional, alguns pequenos bazares, mesquitas,
igrejas, sinagogas, enfim, de tudo um pouco. No fundo este é um reflexo do
cruzamento fervilhante de culturas da Bósnia e em particular de Sarajevo. E é
aqui, precisamente, o epicentro de todo este turbilhão que por agora me parece
bastante saudável e atrativo. A ver vamos se assim permanece por muito tempo.
Na primeira incursão que fizemos pela “Old Town”, percorremos logo
todas as ruas e ruelas apinhadas de gente que se dividiam pelas mesquitas,
pelos inúmeros restaurantes da cidade ou simplesmente deambulando pelas ruas,
no fundo como nós. Encantados com tudo o que íamos encontrando, cruzávamos cada
rua com uma ingénua expectativa do que viria de seguida. Grande parte do comércio
já estava fechado aquela hora da noite, o que é sempre agradável pois
permite-nos economizar tempo e dinheiro. Ainda assim algumas lojas teimavam em
não fechar, desviando a nossa exploração cultural para as bugigangas, em tudo
semelhantes ao que encontramos em qualquer bazar de Istambul, mas a uma escala mais reduzida.
Depois de andarmos algum tempo a passear, decidimos sentar para comer
alguma coisa e como não podia deixar de ser, tivemos de experimentar o
tradicional Ćevapi Bósnio, acompanhado por uma limonada natural que não estava tão fresca como
merecia, face ao calor que ainda se fazia sentir à noite.
Finalmente voltamos
ao hotel para descansar de um longo dia. Ainda voltaríamos ao centro de
Sarajevo no dia seguinte para vermos a cidade à luz do dia.