Passa pouco das oito horas da manhã quando chegamos
a Schwedenplatz, onde vamos apanhar o barco que nos vai levar pelo Danúbio até
Bratislava. Nas ruas de Viena já se vê algum movimento. Chega um carro da
polícia apressado e estaciona junto a uma das entradas do metro. Dois guardas
dirigem-se rapidamente para as escadas que dão acesso à estação. Por estes dias
as forças de segurança andam numa grande azáfama depois do atentado terrorista
que ocorreu em Barcelona. Pessoas com sacos são revistadas no metro e é notória
a presença de policia pela cidade.
Antes de embarcarmos vamos a um supermercado ali
perto para comprar qualquer coisa para comermos na viagem. O catamarã sai às
8:30 como previsto e como não temos bilhete verificamos se podemos ir no
exterior do convés. Como está bom tempo, o comandante dá autorização para que
se vendam estes bilhetes de exterior e ainda bem, senão tínhamos de esperar
pelo barco ao final da manhã.
Embarcamos mas os lugares no exterior estão uma
grande confusão. Somos informados de que até sairmos do canal e entrarmos no
curso do rio Danúbio não podemos andar em pé no exterior. Mas como não temos lugar para os quatro, dizem-nos
para irmos para o interior. Não nos importamos porque os assentos no interior
são bem mais confortáveis do que cá fora. Estes são de plástico. Vale apenas
pela vista e para além disso depois podemos vir para fora durante o resto da
viagem.
Assim que saímos do canal e entramos no Danúbio a
velocidade do barco aumenta e muita gente levanta-se para ir para o exterior. O
interior fica quase vazio. Vamos para uns bancos mais à frente para melhor
apreciarmos a vista e aproveitamos para tomar o pequeno almoço. No exterior não
se pode comer. Depois de um mata bicho tranquilo, vamos lá para fora.
O sol já vai alto mas o vento refresca o ambiente e
dificulta a comunicação. O Rika e a Isa já lá estão a tirar fotografias e
apreciar a vista. Nas margens do Danúbio há muitas casas de madeira pequenas
que parecem ser de pescadores. No rio junto a essas casas tem umas redes de
pesca de formato quadrado penduradas num suporte. Faz-me lembrar as redes de
pesca do rio Mekong que vimos por todo o Camboja, mas essas eram maiores e
muitas vezes estavam acopladas a uns barcos típicos.
A viagem dura cerca de 75 minutos e é muito
agradável. No decurso do rio cruzamo-nos com várias embarcações de carga e
também de passageiros. Assim que sentimos o catamarã a amainar, já sabemos que
nos vamos cruzar com outro barco. Passamos por um parque nacional ainda na
Áustria e o que marca a fronteira com a Eslováquia são as ruinas do castelo
Devin (já no lado Eslovaco).
Daí até à capital Bratislava é um pulinho. Chegamos à cidade ainda antes das dez horas da manhã. Foi uma boa opção que fizemos em vir de barco. Apesar da viagem ser mais cara do que de comboio ou autocarro, compensa pelo passeio.
Á chegada a Bratislava ligamos para o apartamento
onde vamos passar a noite para irmos deixar as mochilas. Assim podemos passear
mais leves. O apartamento é próximo do cais onde desembarcamos e mesmo junto ao
centro da cidade. Bratislava é uma cidade pequena e pode ser visitada
totalmente a pé. O apartamento fica por detrás do edifício da filarmónica
Eslovaca.
Arranjamos um mapa com dois percursos pedestres e
começamos pelo percurso do centro histórico. Estamos junto ao edifício
histórico do teatro nacional e faz muito calor. Quando vimos uns estranhos
aspersores de água no meio da rua achamos que é uma miragem. Mas não. É
simplesmente das melhores ideias que já vi nos últimos tempos. São daqueles
aspersores do tipo que se usam em algumas esplanadas e que não refrescam nada
porque a água entretanto se evapora. Mas estes são uns chuveiros montados como
que num portal para outra dimensão, e que dimensão! As pessoas passam por
dentro alegremente para se refrescarem. Nós com o calor que estamos quase que
dá vontade de tomar banho, mas não podemos perder muito tempo porque pode
parecer mal. Afinal há mais gente que também se quer refrescar. O que é certo é
que esta invenção dá-nos um novo vigor para a caminhada que temos de fazer.
Numa das ruas principais da cidade paramos numa
loja interessante onde fazem uns rebuçados artesanais. Os doces são feitos
manualmente à frente dos clientes e essa é uma das atrações da loja. Temos
várias cores para provar mas eu pessoalmente não acho nada de especial.
Na rua encontramos o Čumil, uma escultura engraçada
de um homem a trabalhar numa conduta de esgoto. Claro que toda a gente quer
tirar uma fotografia com o pobre coitado. É uma escultura de bronze muito
simpática na qual podemos tropeçar se não dermos por isso.
Seguimos para a fonte Maximiliano na praça da
câmara municipal. Ai encontramos mais um chuveiro aspersor para nossa alegria e
gozo. Ai fica também a embaixada francesa, à frente da qual está uma estátua de
Napoleão empoleirado num banco de jardim. Enquanto nos refrescamos nos
aspersores, uns turistas Ingleses tiram umas fotografias numas poses curiosas
com o general Bonaparte.
Por trás do edifício da câmara, fica o velho
edifício da câmara municipal que pode ser visitado. No pátio interior tem uma
exposição peças em madeira feitas por alunos de universidades locais. Passamos
ainda pelo palácio Primatial que atualmente é um auditório para concertos.
Visitamos o mosteiro franciscano e o seu claustro, assim como a igreja mais
antiga de Bratislava, fundada em 1200 e restaurada em estilo barroco em 1700.
Podemos visitar as várias capelas no interior e até umas pequenas catacumbas
onde estão sepultados alguns líderes religiosos da época e que dá acesso a uma
pequena capela subterrânea.
Seguimos pelas estreitas ruas empedradas da cidade
até à Michael's Gate, a principal porta de entrada na cidade aquando das
fortificações do século XIV. Na torre há um museu de armamento e uma vista do
topo para a cidade. No interior da passagem pela porta há uma marcação no chão
que é paragem obrigatória. Nela constam a distância a o sentido para várias
cidades no mundo. Para Portugal não há nenhuma, a mais próxima é Madrid que
fica a 1865 Km. Saímos do centro histórico e passamos pela igreja da trindade e
pela igreja de St. Estevão, dois edifícios da fé católica bem próximos um do
outro.
A partir daqui decidimos seguir o percurso do
castelo e assim subimos até ao topo do monte onde está o castelo barroco
totalmente recuperado. O edifício é o cartão de visita da cidade. Já quando
chegamos de barco foi das primeiras coisas que avistamos. Ao contrário do que é
habitual em edifícios desta natureza, este está completamente recuperado e bem
cuidado. Do topo as vistas para a cidade banhada pelo Danúbio são fantásticas. Visitamos
os jardins exteriores ao estilo Versailles, impecavelmente arranjados e toda a
envolvente onde ainda decorrem algumas obras.
Descemos pela porta de S. Nicolau que fica junto à
igreja com o mesmo nome. Paramos para descansar junto ao museu dos relógios num
pequeno edifício de esquina muito simpático. Passamos uma ponte para as
muralhas medievais da cidade e voltamos ao centro histórico. No percurso das
muralhas vimos uns placards informativos que contam a história de alguns judeus
conhecidos que habitaram em Bratislava, precisamente nesta parte da cidade. Numa
das torres da muralha encontramos uma estante com alguns livros e uns bancos
para quem se quiser servir. Achei piada a este espaço, quase vazio, mas com
tanto simbolismo.
Ao descermos a muralha medieval damos de caras com
a catedral de S. Martinho em estilo gótico e romanesco que data do século XIII.
No seu interior tem quatro capelas e três naves que foram usadas em tempos para
coroações. No exterior por traz da igreja encontramos um edifício velho com
umas janelas e portas muito engraçadas. Estão pintadas com vários temas coloridos que
contrastam com o cinzento do cimento ou a falta dele. A partir dai voltamos
para as ruas mais movimentadas do centro histórico passando por vários palácios,
que só vimos por fora, até chegarmos ao ponto de partida, o chuveiro aspersor
junto ao teatro nacional. No final do percurso histórico passamos novamente
pelo portal de vapores de água e voltamos à dimensão presente.
De seguida vamos visitar uma igreja de estilo art nouveau que se chama igreja azul,
que curiosamente está pintada de azul claro. O edifício é muito interessante e
ao mesmo tempo muito pouco convencional neste contexto. Os seus tons de azul
fazem-me lembrar a pequena cidade de chefchaouen no norte de Marrocos, onde as
ruas são todas pautadas neste tom. A igreja está fechada por isso só
conseguimos espreitar por entre os vidros da porta de entrada. Todavia o mais
interessante é mesmo a cor e o edifício em si visto do exterior. A torre do
relógio é a parte mais alta do edifício e contem um miradouro que também não
conseguimos visitar.
Já mais afastado do centro histórico fica o palácio
presidencial e os seus jardins. Em frente ao palácio está a fonte do planeta da
paz, um monumento com um grande globo em ferro no centro de uma fonte. O motivo
que nos trouxe aqui não foi nem o palácio, nem a fonte, mas sim o apetite.
Estamos à procura de um restaurante que o Rika descobriu na Internet que dizem
ser dos sítios onde se come melhor na cidade.
O Divný Janko (ou weird Janko em Inglês) fica numa
rua insignificante por trás dos jardins do palácio presidencial. Não fora pela
recomendação da WWW e nunca teríamos dado com este estabelecimento. Mesmo assim
temos alguma dificuldade para identificar a pequena porta de entrada. Fica num
edifício antigo com uma decoração simples. Tem um pátio com mesas no exterior e
também várias mesas no interior. Não são muitas e quando chegamos já há muita
gente a comer. Arranjam-nos uma mesa no interior e apesar de as janelas estarem
todas abertas, faz algum calor. Não há ar condicionado.
Pedimos umas limonadas
para refrescar e mais um refresco muito comum aqui que se chama Kofola.
É um refrigerante carbonizado produzido por uma empresa checa que se vende aqui em todo o lado. É o principal rival da Coca-Cola e da Pepsi
e o xarope é constituído por 14 ingredientes. No final tem um sabor a caramelo
muito agradável. É bom nas horas e com este calor então sabe mesmo bem. Bom,
para além das bebidas mandamos vir uma sopa tradicional para provarmos. Mesmo
com o calor estávamos com vontade de provar uma sopa. Os pratos principais
vinham muito bem servidos. Entre Schnitzel (bifes panados)
de frango e massas, comemos muito bem.
Saímos do restaurante e passamos pelos jardins do
palácio presidencial antes de atravessarmos novamente todo o centro histórico
até ao teatro nacional. Dai seguimos por uma rua pedonal cheia de restaurantes,
paralela ao rio na direção à ponte. A rua está repleta de gente ora nas
esplanadas dos restaurantes, ora a comprarem gelados nas inúmera gelatarias. De
um lado são os restaurantes, do outro hotéis e o casino da cidade. As crianças
brincam ao centro junto das estátuas e fontes de água. No final da rua está uma
estátua de Hans Christian Andersen. Talvez por isso esteja por aqui tanta
pequenada.
Vamos até à ponte iluminada com o deck de
observação em forma de OVNI na outra margem. A ponte tem passagem pedestre por
baixo, mas hoje ninguém está com vontade de andar muito mais. Tentamos
encontrar uma geocache que está identificada num dos pilares da ponte, mas
depois de muito procurarmos desistimos. Já estamos cansados e a zona é muito
movimentada, o que não facilita a pesquisa. Amanhã regresso à ponte para fazer
a minha corrida matinal.