Os
mercados locais são em qualquer parte do mundo espaços vibrantes onde os locais
apresentam o que de melhor têm numa demanda cada vez mais árdua face à
concorrência das grandes superfícies e do mercado grossita em geral. Talvez por
essa dinâmica de labuta e criatividade sejam locais curiosos para se visitar.
Não foi apenas a curiosidade que nos levou ao mercado central de Phnom Penh, Neayok Souk, mas também a necessidade de
apetrecharmos a nossa nova casa com alguns utensílios, pois só temos mobílias e
eletrodomésticos.
Saímos
de casa e apanhamos um Tuk Tuk para o mercado, não sem antes negociarmos o
preço com o motorista. Penso que acabamos por fazer um bom negocio e deixou-nos
mesmo à porta do mercado, onde já se sentia a vibração de gente pelas ruas. O
mercado é um edifício em forma de cruz com uma parte central octogonal. Com
quatro entradas principais e vários acessos laterais é simples de explorar sem
receio de nos perdermos. Até porque não é muito grande nem tão confuso como
alguns bazares árabes, esses sim, autênticos labirintos.
No
mercado encontramos de tudo, desde os típicos frescos, passando pelos têxteis,
até artigos de ornamentação. Os últimos têm mesmo um espaço nobre no centro do
mercado, onde se vende joalharia, óculos, relógios, entre outros “luxos”.
Entramos
por uma das naves em direção à zona central para nos podermos orientar. Para a recepção tivemos logo vários peixes à
escolha. Uns, frescos dentro dos mais variados
alguidares, alguns ainda vivos a
“espernear”, outros secos, pendurados em canas emanando um odor nauseabundo. Um
dos petiscos principais são pequenos camarões secos de todas as cores vendidos
a granel. Em boa verdade é importante
referir que a maior parte dos peixes que vimos não os conseguimos identificar,
ou porque estão de tal maneira amanhados e portanto indecifráveis, ou
simplesmente porque não fazem parte do nosso vocabulário ictiológico. De
referir ainda que muito do peixe que se vende no mercado é de rio, pois a
cidade é cirandada por dois rios.
Mas
nem só de peixe vive o mercado e se pensávamos que esta é a parte menos
asseada, logo mudamos de ideias quando chegamos à zona das carnes. Assim como o
peixe, a carne está pendurada por tudo quanto é espaço, mas tem a vantagem de
estar “conservada” com moscas. A variedade aqui já é menor que no peixe. Temos
galinhas amanhadas, ainda com cabeça e pedaços de carne de porco e de vaca. A
pessoa escolhe o naco que mais lhe aprouver e depois é arranjado na hora, como
num qualquer talho convencional. Ora aqui temos também uma particularidade
curiosa. Os vendedores estão sentados em cima das bancadas com uma tábua
redonda entre as pernas, na qual dissecam os cadáveres ao gosto do freguês.
Geralmente estão descalços o que permite um contacto natural com a carne que
estamos a comprar. É assim em todas as bancadas da carne, por isso para além de
escolher bem o naco de carne, convêm escolher o vendedor que tiver os pés mais
asseados.
Escusado
será referir que em parte nenhuma vimos equipamentos de refrigeração para
manter os alimentos frescos. Mas também como aqui não faz muito calor, isto
está tudo naturalmente “fresquinho”.
Depois
do peixe e da carne, falemos dos legumes e da fruta, uma lufada de higiene no
meio de tanta sordícia. Aqui já nos sentimos mais confortáveis, primeiro porque
não estamos rodeados de odores indescritíveis e depois porque mesmo sem
conhecermos alguns produtos, sempre são mais agradáveis à vista. De legumes
temos tomates, nabos, pepinos, couve flor, entre outros que não consigo
descrever. Na fruta temos quase todas as que estamos acostumados na europa,
como laranjas, maçãs, uvas, bananas, outras mais exóticas como papaias, mangas,
Litchis,
pitaia, e tantas outras que nem sequer sei os nomes. Não podemos deixar passar
a seção dos frutos secos onde encontramos também de tudo o que estamos
acostumados, sendo que a castanha de caju impera, quer na quantidade, como no
preço, muito mais barato que as amêndoas ou as nozes, por exemplo. Amendoins,
favas, grão e ervilhas secas, são também bastante comuns.
Numa
outra seção do mercado temos a restauração, onde os locais se aglomeram em
pequenas esplanadas improvisadas para degustarem as mais requintas iguarias.
Deixemos
então as comidas, passando para o resto que é basicamente tudo, isto é, aqui
vende-se de tudo. Temos farmácias e lojas de produtos de higiene e beleza,
artigos para a casa, desde lençóis de cama a panelas de cozinha. É o local
perfeito para qualquer moça solteira preparar o seu enxoval, se é que ainda se
usa! Também temos bancas a vender tecidos ao metro, malas de senhora e de
viagem e uma parafernália de “prontos a vestir” com as ultimas modas das mais
nobres casas de Paris. Ai sim, entramos num labirinto de roupas, onde o espaço
entre uma loja e outra mal dá para uma pessoa passar. Seguimos então a roçar
por tudo quanto é tecido para ficarmos logo com o toque da roupa. No final é
mais fácil escolher! Compramos um polo de uma conceituada marca desportiva por
5$. Pedem-nos 3$ por uns óculos Oakley, mas não podemos perder a cabeça logo na
primeira investida no mercado. Estes têm de ficar para uma próxima.
Mas
nós vamos mesmo é à procura de roupa de cama e a escolha é vasta, mas tudo tem
de ser negociado, pois por sermos estrangeiros acham que podem pedir valores
absurdos. Tem de se ter alguma paciência. Depois de vasculharmos todos os
corredores e de espremermos o preço em várias bancas, lá decidimos o que
comprar. Terminamos a nossa visita ao mercado Neayok
Souk levando na bagagem um polo, uma colcha para a cama, um tapete de casa
de banho e 1 kg de castanha de caju. Eles aqui ainda não sabem, mas na Europa
já estamos em crise à algum tempo!
Uma
vez que viemos com a missão de explorar os mercados, depois de almoço vamos até
ao mercado antigo, na rua 108. No dia em que chegamos a Phnom Penh, passamos
por aqui com o Luís, o nosso amigo Português, que nos disse que nunca aqui
tinha entrado nem fazia intenções de entrar, tal é o ambiente fantasmagórico do
local. Apesar do aspeto, o mercado parece-nos tranquilo e decidimos fazer o
gosto à curiosidade. Provavelmente somos os únicos estrangeiros a andar por
aqui, mas isso faz parte da magia do local. Comparado com o mercado central,
este é mais claustrofóbico. Grande parte do comércio que aqui se faz é de
joalharia. Depois seguem-se os salões de beleza, onde as jovens locais arranjam
os cabelos e fazem tratamentos de aerossóis em marquesas espalhadas pelo
caminho. Temos de ter algum cuidado a andar por aqui, não vamos tropeçar e cair
em cima de alguém.
Numa
outra seção do mercado temos o peixe e a carne onde o padrão de higiene é
ligeiramente inferior ao que vimos no mercado central. Mas agora já temos outra
preparação! Se alguém tiver dificuldades em adotar um regime alimentar
vegetariano, os mercados de Phnom Penh podem ser uma boa ajuda.
Depois
dos mercados encontramo-nos com o Luís Arieira e com a sua namorada que nos
levaram até ao terraço de um simpático hotel onde pudemos tomar um refresco e
apreciar as vistas da cidade. Tivemos ainda tempo para fazer um passeio de
barco no rio. Apesar de estar cá já à três anos, foi a primeira vez que o Luís
fez este passeio que durou cerca de uma hora e nos leva do rio Tonle Sap ao rio
Mekong. A vista do rio para a cidade é agradável e o por do sol a bordo uma experiência prazenteira.