No Reino do Camboja - de Faro a Phnom Pen

Estamos prestes a embarcar numa nova aventura, desta feita para bem longe, aliás o mais longe até então. Ao contrário das outras viagens que já fizemos, esta tem um propósito extra, para além da constante curiosidade pela descoberta do mundo. A razão que nos leva até ao "outro lado" do mundo não é só para conhecer, mas agora também para viver e trabalhar num outro contexto, numa outra realidade tão diferente da nossa. Quando surgem estas oportunidades, ainda para mais para duas pessoas ao mesmo tempo, há que aproveitar, pois podem só surgir uma vez. É pois  uma aventura de médio/longo prazo, conforme a perspetiva, mas nunca de curto prazo como outras incursões que temos feito por outros países.
O destino é a região da antiga Indochina, hoje mais conhecido como Sudeste Asiático. O país, o Camboja, antigo bastião do império Khmer. A viagem da Europa para este lado do mundo é só por si uma aventura só ao alcance dos mais destemidos viajantes. Escusado será referir que de Portugal não existem vôos diretos para a região, por isso o melhor que conseguimos encontrar foi um conjunto de escalas que totalizam 24 horas de viagem. Ou seja, gastamos um dia das nossas vidas só para chegar ao nosso destino. Saímos de Faro para Lisboa, depois Madrid, seguiu-se Doha, no Qatar de onde apanhamos o voo de maior duração para Phnom Pen, Camboja. Pelo caminho ainda paramos em Ho Chi Minh, antiga Saigão e uma das maiores cidades do Vietname. Ai estivemos cerca de uma hora dentro do avião numa escala atípica onde sairam a maior parte dos passageiros do nosso voo e entraram novos passageiros com destino ao Camboja.
 

No dia 24 de setembro de 2015, por volta das 15:30, chegamos ao aeroporto de Phnom Pen. Fomos recebidos à chegada pelo diretor dos recursos humanos da Zaman University que se disponibilizou para nos levar até ao nosso alojamento, mostrar-nos a universidade e levar-nos ao TK shopping para nos dar umas dicas sobre as compras na cidade. Como esperado, a temperatura na cidade é elevada e a humidade também. Frio é um conceito desconhecido por aqui. Depois de instalados encontramo-nos com um português que já está no Camboja à 3 anos. Conheci o Luís através de um forum de expatriados e desde o nosso primeiro contacto foi muito prestável, tendo inclusivamente falado conosco quando esteve em Portugal de férias. Foi o Luís que nos forneceu muita da informação que recolhemos antes de embarcar nesta aventura. Foi buscar-nos para nos mostrar a cidade e nos dar algumas informações in-loco. Depois de uma volta pelo centro onde pudemos sentir a alma de Phnom Pen e tirar uma fotografias panorâmicas da cidade, voltamos ao TK shopping onde jantamos juntos.

A zona em que estamos alojados chama-se Toul Kouk. É ligeiramente afastada do centro da cidade, distando cerca de 3 Km do centro. É aqui que fica a universidade onde vamos trabalhar, por isso é nesta área que pretendemos morar. De início ficamos alojados nas instalações da ADRA local (Adventist Development and Relief Agency) uma ONG (Organização Não Governamental) internacional que conhecemos de Portugal. Fizemos os contactos prévios para nos receberem e como a sede fica localizada mesmo por detrás da universidade, não podia ser melhor. No dia seguinte à nossa chegada apresentamo-nos na universidade, onde ficamos a conhecer os colegas e as instalações. Disponibilizaram um funcionário para nos ajudar a tratar de alguns assuntos como abertura de conta bancária e procura de casa.
Os primeiros dias no Camboja foram naturalmente de adaptação. Para quem vem da Europa ou de qualquer outra parte daquilo a que alguns chamam 1º mundo, o Camboja pode assustar ou pelo menos meter algum respeito. Nada de extraordinário no entanto, para um país em desenvolvimento. Para quem está acostumado a África, aqui será o que os ingleses chamam "a walk in the park" (um passeio no parque). As ruas são sujas, o trânsito é caótico, as regras cada um faz as suas, o calor é constante e a cidade está em constante turbulência. Apesar do cenário caótico as pessoas são tranquilas e simpáticas e desprovidas de qualquer tipo de stress! Andar na rua é sempre uma aventura, porque a rua é principalmente para as motas. Os carros circulam por entre o emaranhado de velocípedes apinhados de gente que se desloca para todo o lado em todas as direções. A única regra que se percebe aqui é a do tamanho, isto é, quanto maior for a tua presença na estrada, mais respeito os outros têm. Talvez por isso é que a maior parte dos automóveis que circulam na estrada são SUV's e 4x4 de alta cilindrada, um sinal claro do poder de compra de alguns em comparação desproporcional com a generalidade da população.
Quanto ao comércio, espantem-se os mais cépticos porque aqui há de tudo, com um pouco mais de variedade que em Portugal. A comunidade estrangeira é muito grande. Notícias recentes de um jornal local apontam cerca de 50 000 expatriados, sendo a comunidade Norte Coreana a mais representativa. Quanto aos Portugueses somos cerca de 10, pelo menos que tenha conhecimento até ao momento. No outro dia "descobrimos" um casal no elevador do nosso prédio.

Um dos momentos caricatos da nossa curta estadia aqui, foi uma chuvada que caiu sobre a cidade de forma abrupta, numa quinta-feira à noite. Estamos a fazer compras depois de um dia de trabalho quando desata a chover como se não houvesse amanhã. Esperamos pacientemente que a chuva pare, mas sem efeito. Quando abranda decidimos pôr ao caminho para casa, uma distância de cerca de 700 metros. Em pouco tempo as ruas ficaram completamente alagadas deixando-nos sem alternativas para chegarmos a casa. A única forma que temos é atravessar as estradas inundadas ficando completamente encharcados dos pés às cabeça. Não há maneira de evitar este fenómeno, a não ser ficar em casa. Mas quando chove assim durante dias seguidos essa não é uma opção. Felizmente que não foi isso que aconteceu ... para já. Mais tarde, no domingo às 06:45 começou novamente a chover desalmadamente de tal forma que acordamos sobressaltados. De tarde as ruas estavam novamente todas inundadas tendo a água subido a um nível superior.

Os primeiros dias em Toul Kouk foram dedicados, para além do trabalho na universidade, a procurar casa para morarmos de forma permanente. A universidade providenciou uma agência imobiliária para nos mostrar algumas casas e eu contactei outras agências que nos vieram buscar à universidade para nos mostrar apartamentos. O nosso interesse é ficar a morar perto da universidade, por isso só nos interessa ver casas na zona de Toul Kouk. A oferta é vasta, mas sente-se já uma grande procura de expatriados que vão chegando a Phnom Pen, o que faz com que os preços sejam inflacionados. Durante alguns dias andamos de agente em agente a ver casas para depois podermos decidir onde ficar. No domingo, uma amiga que conhecemos na igreja adventista de Phnom Pen que fica também em Toul Kouk, a Fay Scott, disponibilizou-se para nos levar a conhecer algumas lojas nas redondezas e também para nos levar a alguns empreendimentos para vermos mais casas. Isto foi da parte da tarde, depois de ter chovido toda a manhã. As ruas estavam de tal forma inundadas que partes da cidade pareciam autênticos rios. Nada que impedisse o seu Toyota de circular pelas aguas barrentas da cidade. A única preocupação é saber se o nível da água não chega à porta da viatura. Assim fomos passeando, maravilhados com esta abordagem radical que aqui se fás à chuva. Mais uma vez sobressaem os SUV's e 4x4 que nestas alturas fazem pouco dos veículos mais rasteiros. As pequenas lojas locais estão inundadas e os proprietários fazem o que podem para escoar as águas. Não é nada de novo por aqui e as pessoas já estão habituadas a estas andanças.

Finalmente, depois de muitas casas, lá decidimos onde ficar e assim mudamos as nossas coisas da ADRA para o edifício Riche Elite, um condomínio de 9 andares que fica mesmo atrás da ADRA e perto da universidade. É um apartamento como aqui se diz,  "western style", construção propositada para expatriados com algumas condições que as casas locais não têm. Fica numa localização central, pois estamos perto da universidade, da Igreja, de vários supermercados e shopping e do mercado local de Toul Kouk. Tudo a uma pequena distância a pé. Mas aqui ninguém anda a pé, ou porque está muito calor ou porque são simplesmente preguiçosos. Assim, de futuro pretendemos arranjar uma mota para nos aventurarmos pelo frenético trânsito da cidade. Só assim podemos ter uma experiência completa do que é viver neste país. Mas para já estamos bem localizados e instalados.

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