Dias 14, 15 e 16 – 11 a 13/08/2013,
domingo, segunda-feira, terça-feira
Ljubljana, Eslovénia
Estamos perto de conhecer o último país da nossa expedição e apesar da
quantidade de quilómetros que já percorremos, a viagem para lá chegarmos não se
compadece do nosso cansaço e assim dificultar-nos de granjear mais este alvo no
nosso planisfério.
Saímos da estação de autocarros de Belgrado às 00:40 e vamos aproveitar
a noite para descansar (pensamos nós ...). A hora prevista de chegada a Ljubljana é às 9:00, perfeito para aproveitarmos todo o domingo para passear.
Quando saímos de Belgrado ao início da noite o cansaço acumulado das
viagens anteriores rapidamente se apoderou de nós e subitamente caímos no sono.
E assim permaneceríamos até ao destino Eslavo se não fosse o tormento das fronteiras.
Uma viagem que se esperava revigoradora, acabou por se tornar uma grande
chatice (“a real pain in the ass”),
não tanto pela distância que percorremos, mas pelo tempo descomunal que se
perde na travessia das fronteiras.
Para ir de Belgrado para Ljubljana na Eslovénia, passamos pela Croácia. Apesar do
nosso destino estar à distância de um país, nunca pensei que para lá chegar de
autocarro tivéssemos de passar por esta tão entediante e traumática experiência.
Ao chegarmos à primeira fronteira (Sérvia/Croácia), quando estávamos imersos
num sono profundo, eis que nos esperava uma longa fila de autocarros para fazer
o controlo fronteiriço. Depois de largos minutos à espera pela nossa vez, chega
a pior parte!
No meio de bocejos e ramelas nos olhos, somos obrigados a sair do
autocarro e a juntarmos a uma fila de passageiros para mostrarmos o passaporte
ao guarda fronteiriço que está confortavelmente sentado no seu guiché,
desempenhando o seu papel nas maior das calmas, pois ele tem mesmo de estar ali
toda a noite! Ali estamos desconfortavelmente plantados no meio da noite em
fila indiana, como se de refugiados nos tratássemos à espera da nossa vez para recebermos
o tão desejado carimbo no passaporte. Depois de todos os passageiros terem
passado, o autocarro é revistado e só depois atravessa a fronteira. De seguida
lá entramos nós, já do outro lado para voltarmos aos nossos aposentos, que
naquela hora nos pareciam os mais confortáveis do mundo. Afinal de contas,
qualquer coisa é melhor do que dormir em pé numa fila indiana numa encruzilhada
de fronteiras algures nos Balcãs.
Tudo isto seria ainda minimamente tolerável se tivesse ocorrido apenas
uma vez. Mas não… Quando saímos da Croácia para entrar na Eslovénia lá voltamos
ao mesmo ritual e aqui nem se percebe a razão uma vez que se tratam de dois
países da União Europeia!
Fiquei com um pó às fronteiras e a todos os que lá trabalham que ainda
hoje, cada vez que me lembro, ainda me dá-me voltas ao miolo. No fundo talvez estejamos
é mal habituados. Se a União Europeia não servir para garantir a paz,
estabilidade e prosperidade, para evitar crises financeiras, para facilitar a
exportação de produtos, promover equidade entre os povos, enfim ... se não
servir mesmo para nada, pelo menos deixa-nos dormir em paz ao cruzarmos os
vários estados membros. Já não é nada mau e isso a mim traz-me muita paz!
Chegamos à estação de autocarros pela manhã e seguimos de imediato para
o Hotel Park, onde iriamos ficar nos próximos dias. Da estação ao hotel não são
mais do que 10 minutos a pé e com o auxilio do GPS encontramos rapidamente o
hotel. Uma vez que estava cheio, não podemos fazer logo o check-in mas deixamos
as malas no hotel e fomos logo à descoberta da cidade. O Hotel Park fica
localizado na zona de Tabor, muito perto do canal que serpenteia a cidade e a walking distance do centro, para onde
fomos logo.
Passamos pelas famosas pontes da cidade,
Dragon Bridge, Butchers' Bridge, Triple
Bridge, só para mencionar as mais conhecidas. As pontes ligam a zona medieval
de Ljubljana à parte moderna da cidade, onde se concentra
todo o comércio e grande parte da atividade local.
Ao longo de todo o canal proliferam restaurantes, cafés e bares onde se
pode tomar alguma coisa desfrutando das vistas magníficas da cidade. A cidade é
pequena e consegue-se visitar praticamente toda a pé e foi o que fizemos
durante os dois dias que passamos em Ljubljana.
Começamos a visita fazendo um reconhecimento geral à cidade onde
rapidamente nos apercebemos que já não estávamos nos Balcãs. Aqui respira-se
uma atmosfera mais europeia, um ambiente calmo e mais organizado, centro
europeu, leia-se. A comparação melhor que tenho é com algumas cidades alemãs.
De facto em Ljubljana parece que estamos na Alemanha, longe das balbúrdias que
vimos na Sérvia e mesmo na Croácia, aqui estamos a anos luz dos Balcãs. Ljubljana foi praticamente o nosso único contacto com a Eslovénia mas pelo que nos
apercebemos, a Europa aqui já chegou à muito tempo, ainda antes da União
Europeia.
A Dragon Bridge contem quarto dragões que segundo a lenda, cada vez que uma virgem
passa na ponte, eles abandam as suas caudas. Não vimos nenhum dragão a abanar a
cauda, mas talvez fosse porque não esperámos tempo suficiente. Tivemos sim
tempo para fazer uma geocache, que se
tornou uma aventura interessante. Passo a explicar. Quando nos dirigimos ao
local apontado pelo GPS, estavam umas obras a decorrer no local. Dois dos
trabalhadores tinham acabado de encontrar uma pequena caixa a qual estavam a
apreciar com muita curiosidade. Nós percebemos logo do que se tratava e eles
aperceberam-se também de que nós estávamos exatamente à procura daquela caixa.
Então lá fomos ter com eles e explicamos que se tratava de um jogo. O
encarregado da obra, muito simpático entregou-nos a caixa e depois ainda
ficamos uns momentos à conversa. Explicamos do que se tratava o jogo e ele
traduziu para o outro trabalhador de origem Bósnia, o qual disse que na Bósnia
não havia esse jogo. Poi muito se engana o senhor, mal ele sabe que a Bósnia
está carregada de geocaches. Feito o
registo no logbook tivemos de
encontrar um novo esconderijo para a geocache.
Mais tarde informamos o proprietário da nova morada para que ele atualize o registo
no site. E assim salvamos o dia de uma geocache,
cujo destino mais do que certo era o lixo.
Seguimos junto ao canal, passando pelo mercado ao ar livre que estava a
encerrar e fomos até outra ponte, a Butchers'Bridge com as suas esculturas da Grécia antiga e também do Cristianismo. Mas a sua fama deve-se aos inúmeros cadeados que se alinham pelos
cabos ao longo da ponte como símbolos de declarações de amor eterno que os
casais apaixonados vão deixando ali, à semelhança da famosa Pont dês Arts em París. Coloca-se o cadeado e atira-se chave para o rio para garantir um amor eterno! Os únicos
cadeados que tínhamos estavam no hotel a guardar as malas, mas também não
precisamos de um cadeado para declarar o nosso amor! Julgo que temos conseguido
ser mais criativos do que isso e nos dias que correm, um cadeado dá sempre
jeito para guardar alguma coisa.
Seguindo pelo canal chegamos à Triple Bridge
(Tromostovje) que conflui para a praça Prešeren um dos pontos centrais da
cidade que recebeu o nome do famoso poeta esloveno France Prešeren, onde está
uma estátua sua erigida no centro da praça. Este é um ponto central para
visitar a cidade, uma vez que a partir desta praça se chega rapidamente ao
pontos fulcrais da cidade: o castelo, a parte antiga da cidade, museus,
universidade e zonas comerciais.
Depois de feito o levantamento pelas ruas,
fomos às Galerias Emporium, um dos locais mais exclusivos de compras da cidade
situado junto à praça Prešeren.
Voltamos ao hotel da parte da tarde onde aproveitamos para descansar
durante alguns momentos antes de sairmos já mais para o final do dia.
Jantamos no famoso “Falafel” um dos restaurantes budget mais famosos da
cidade, perto da Dragon Bridge. A
fama não lhe faz jus, já que é um espaço minúsculo onde os clientes se amontoam
só para levar comida para fora. Só tem 3 mesas pequenas para se comer portanto
quase nem dá para sentar. Por acaso tivemos sorte que estava um casal a
terminar quando chegamos. Mas a verdade é que os falafel são belíssimos e daí
tamanha afluência.
Depois do jantar voltamos a passear pelas ruas da cidade, mas desta vez
pela parte antiga que dá acesso ao castelo. Uma vez que já começava a ficar
tarde, deixamos o castelo para o outro dia de manhã. O aceso ao castelo faz-se de carro, de funicular ou a pé. Nessa manhã
como ainda estávamos frescos subimos até ao castelo a pé. A subida foi dura
apesar das vistas que proporciona o trilho. O castelo de Ljubljana é um dos
pontos mais turísticos da cidade e merece a visita. Tem várias secções, de onde
se destacam as torres, a penitenciária e as exposições permanentes. Passamos
parte da manhã a explorar o castelo. Voltamos à cidade, onde fomos almoçar uma
gostosa salada num restaurante à beira do canal. Da parte da tarde fomos
visitar o Tivoli Park, o principal e maior parque verde da cidade.
Uma visita a Ljubljana não fica completa sem passar pela Metelkova City,
um centro cultural autónomo e alternativo, acrescento eu, que fica situado nas
antigas instalações militares da armada Jugoslava. De forma a não nos
assustarmos com o quadro, começamos por ir durante o dia. O local é composto
por vários edifícios velhos todos "graffitados" e cheios de instalações
artísticas. É aqui que se encontram muitas das galerias de arte e ateliers da
cidade. É frequentado principalmente por artistas do underground que se reúnem nos vários bares e clubes noturnos para
se inspirarem para as suas obras. É no entanto à noite que a Metelkova ganha vida, quando abrem os
bares e as ruas se apinham de gente, na sua maioria a fumar e a beber. Nesta
altura o quadro pode tornar-se assustador, mas no fundo é tudo boa gente, cada
um na sua onda.
Terminamos assim a nossa estadia em Ljubljana, a pequena capital dos Balcãs que parece deslocada no espaço e no tempo quando comparada com as outras
cidades que visitamos. É chegada a hora de apanhar o comboio de volta a Zagreb. Chegados à estação de comboios central de Zagreb,
pegamos nas malas e
fomos a pé até à estação do autocarro que nos levou ao aeroporto, de onde
voamos de volta para Lisboa.
O percurso de 15 minutos a pé entre o comboio e o
autocarro fez-nos reviver a recente estadia na capital Croata e pelo caminho
encontramos uns graffitis que nos transportaram de novo de volta à Metelkova na Eslovénia.
E foi assim
nesta encruzilhada de povos e sentimentos que nos despedimos daquela outrora
Jugoslávia, reino dos sérvios, croatas e eslovenos, agora espartilhada ao longo
dos Balcãs.