Dia 11
– 08/08/2013, quinta-feira
Split, Pocitelj, Sarajevo
Pela manhã a primeira coisa que quisemos fazer
foi ir até à praia para experimentar as águas de Split. O calor era intenso e a
distância até á praia a pé custou a percorrer. Acabamos por ficar um pouco
desiludidos com a praia. Depois de tantas praias fabulosas em que tínhamos
estado, esta praia urbana de Split não nos convenceu. De todas as cidades
Croatas esta era a qual eu pessoalmente tinha maiores expectativas de conhecer.
Talvez por termos chegado já de noite ou por já termos passado por tantos
outros locais interessantes, Split acabou por ser uma desilusão. É uma grande
centro urbano, muito industrializada, mas no fundo uma cidade um pouco
descaracterizada. Talvez numa próxima visita fique com outra impressão.
Hoje foi um dia marcante na nossa expedição,
pois a nossa equipa iria dividir-se. O Pablo e a Rita iam de comboio até Zagreb
para no dia seguinte voltarem a Portugal e darem por encerrada a sua
contribuição nesta aventura. Eu e a Marisa ainda temos mais uns dias para
desbravar este território. Assim fomos até à estação de comboios para deixarmos
os nossos amigos. Passados tantos dias juntos já nos sentíamos como uma pequena
família e as despedidas custam sempre, embora esta não fosse por muito tempo.
Afinal de contas quando voltássemos à península Ibérica estaríamos juntos
novamente. Deixamos o Pablo e a Rita partirem e voltamos à estrada pois nessa
noite ainda iriamos dormir em Sarajevo (de novo...).
Saímos de Split em direção à autoestrada A1
que nos iria levar até à Bósnia e Herzegovina, ou melhor quase, porque a estada estava em
obras. Entramos na fronteira perto de Vrgorac, uma fronteira grande das mais
modernas por onde já tínhamos passado, mas sem movimento praticamente
nenhum. Parece que estavam à nossa
espera e a receção foi, como não poderia deixar de ser, personalizada. Ainda no
ladro Croata da fronteira pediram-nos para encostarmos o carro para o controlo
fronteiriço. Como não passava por ali ninguém talvez tivessem necessidade de
justificar o seu trabalho. Vieram então dois polícias simpáticos ter connosco
ao carro para saber se transportávamos alguns medicamentos, drogas ou álcool.
Respondemos que não, mas eles quiseram ter a certeza e então delicadamente
pediram para abrir as nossas malas e verificarem o levávamos na bagagem. Como
“quem não deve não teme” estávamos descansados mas nunca se sabe o que é que
esta malta pode desencantar nas nossas recheadas bagagens. Numa das mochilas
tínhamos um kit de analgésicos para alguma emergência que levamos sempre em
viagem. Os polícias verificaram uma a uma as embalagens e apesar de estarem em
português, um deles conseguiu perceber tudo o que transportávamos. Apesar do
aparato com mochilas abertas no chão e carteiras de analgésicos nas mãos da
autoridade, o procedimento terminou de forma tranquila e simpaticamente nos
desejaram uma boa viagem. Também seria de estranhar passarmos tantas fronteiras
e nunca sermos convidados para uma rotina destas! Já estava a começar a
estranhar a hospitalidade desta gente!
Entramos no lado Bósnio em qualquer problema e
partimos da fronteira no sentido norte em direção a Mostar. Pelo caminho
paramos em Pocitelj,
um local histórico, património da UNESCO na margem esquerda do rio Neretva (o mesmo que passa por Mostar). Em 1996 foi considerada um dos 100 monumentos mundiais mais em perigo
e no ano 2000 o governo da federação da Bósnia e Herzegovina iniciou um programa de proteção permanente. Construída no séc. XIV pelo Rei Bósnio Tvrtko foi mais tarde tomada pelo império Otomano
que ali permaneceu até ao séc. XIX. Fica localizada numa encosta íngreme e é
composta por um vasto complexo arquitectónico fortificado pedra do qual fazem
parte várias casas em pedra, a mesquita Hadzi-Alija e na parte superior da
cidade as ruinas da torre da Fortaleza. O dia estava extremamente quente, com
temperaturas a rondar os 40ºC, nada convidativo para visitar o local, ainda
para mais quando parte da visita consistia em subir a colina. Ma mesmo assim,
não podíamos desperdiçar esta oportunidade e apetrechados com uma garrafa de
água começamos a nossa “escalada”. Ao entrarmos na escadaria principal da
cidade, alguns habitantes locais vendiam fruta e bebidas frescas para aliviar a
“dor” de uma visita em tais condições climatéricas. Mais em cima, no exterior
da mesquita vendiam-se algumas bugigangas e para visitar o interior da mesquita
era necessário usar calças ou então vestir umas calças que emprestavam no
local. Com o calor que estávamos, a última coisa que nos apetecia era por mais
roupa no corpo e por isso ficamos só pelo exterior da mesquita. Durante o
período da guerra dos Balcãs a cidade foi fortemente atingida, em particular
pelas forças Croatas, e a mesquita foi praticamente destruída. Hoje está
totalmente reconstruída e é um dos edifícios mais imponentes da cidade. A parte
final da visita foi mais fácil, uma vez que foi sempre a descer desde a torre
no topo da colina.
Voltamos à estada com o ar condicionado no
máximo. Alguns quilómetros mais
O avião estava a encher de água para o combate
a um incêndio nas redondezas. Paramos o carro para conseguir tirar algumas
fotografias mas o ângulo não era o mais favorável. Continuamos viagem até
chegarmos a uma ponte onde várias pessoas estava a assistir em direto e ao vivo
às manobras de abastecimento dos aviões. Afinal não eram um mas dois aviões que
estavam a combater um incêndio nas montanhas circundantes. Na ponte enquanto
esperávamos pela passagem dos aviões conhecemos um repórter da agência Reuters que estava com a sua câmara de filmar a fazer a
reportagem para aquela agência. Enquanto esperávamos a próxima passagem fomos
conversando e contou-nos que era de Sarajevo. Começara a trabalhar para a
agência na altura da guerra e fez o acompanhamento do cerco a Sarajevo. Não
tivemos muito tempo para conversar porque o trabalho estava primeiro e nós
também ainda tínhamos muito que andar, mas certamente muitas histórias teria
para contar na primeira pessoa. Tirámos algumas fotografias aos aviões que
passavam mesmo à nossa frente para abastecerem no rio e depois de
experimentarmos vários ângulos, seguimos viagem.
Pelo caminho paramos em Mostar só de passagem
para irmos buscar os nossos cartões de cidadão que ficaram na B&B Most.
Tínhamos entregue os cartões quando fizemos o check-in e depois não nos
lembramos de os levantar quando saímos. O senhor já estava à nossa espera, pois
tínhamos enviado um email, e recebeu-nos com grande alegria e ofereceu-nos logo
uns doces tradicionais, entre eles uma baklava, enquanto descansamos por uns instantes.
De Mostar a Sarajevo foram cerca de 2 horas de
viagem. Chegamos ao cair da noite e fomos diretos ao Hotel Itália onde tínhamos
reserva para essa noite. O nosso amigo que nos recebeu da última vez no hotel
reservou-nos uma “pequena” surpresa para
esta segunda noite. Fez-nos um upgrade para uma suite enorme! O quarto tinha
uma sala tão grande que mais parecia um salão de baile. Apreciamos a gentileza
mas antes de desfrutarmos do alojamento superior ainda quisemos ir ao centro de Sarajevo.
Desta vez levamos o carro para não perdermos muito tempo e porque
ainda queríamos ir visitar Avaz Twist Tower, o edifício mais alto da cidade.
Chegamos ao cimo da torre onde tem um bar/restaurante e um miradouro do género
do Empire State Bulding, New York. O sol estava a pôr-se mas ainda conseguimos umas
boas vistas. Dali conseguimos ver toda a cidade e é um dos poucos locais em Sarajevo de onde se consegue “espreitar” para dentro da embaixada americana,
que fica logo ali ao lado. Descemos a torre e fomos para o centro. O
estacionamento na cidade é caótico e tivemos de recorrer ao parque de
estacionamento do BB Shopping Center. Acontece que aquilo a que tínhamos
assistido à uns dias atrás em Budva, Montenegro, estava agora a acontecer-nos a
nós, isto é, estivemos 30 minutos numa fila para poder estacionar no parque
pago do shopping! Depois de muita
paciência lá estacionamos e fomos então para o centro, para a “Old Town” da
qual ficamos rapidamente fãs. Desta vez quisemos encontrar um restaurante
tradicional onde pudéssemos tomar uma boa refeição e ao mesmo tempo descansar
da viagem. Comemos uma sopa tradicional de legumes e Bosanski Lonac acompanhados de múscia ao vivo.
O ambiente na cidade era de grande festa
porque era chegado o fim do Ramadão, o Bayram. As raparigas na rua trajavam ao mais
alto rigor ao contrario do que vimos da primeira vez que cá tínhamos estado. As
ruas estavam repletas de gente alegre partilhando uma atmosfera sadia e ao
mesmo tempo inspiradora e é por isso que não nos cansamos de Sarajevo.