Em Fès
Fès é a segunda
cidade mais visitada de Marrocos, depois de Marraquexe, e uma das mais
importantes no país. É famosa pela sua Medina, uma das maiores do mundo, e das
universidades, as mais importantes de Marrocos. Para além da Medina, a parte
nova da cidade também é muito grande. A riad em que ficamos, mais uma vez
situa-se bem dentro da Medina. Deixamos o carro num parque junto ao hotel
Batha. Pagamos ao “guarda” 40 Dirhams (< 4€) para nos guardar o carro
durante dois dias, mas antes tivemos de negocia porque o senhor queria 50
Dirhams. A riad é gerida pela mãe Fatima e a filha Khadija, as pessoas mais
simpáticas que conhecemos em Marrocos. Depois de nos instalarmos fomos até ao
terraço da riad, onde nos deram as boas vindas à boa maneira Marroquina, com um
gostoso chá de hortelã-pimenta quentinho.
Partimos então à descoberta da
Medina, que é um complexo emaranhado de ruas assustador, onde ao contrário de
Chefchaouen, o mais provável é perdermo-nos em cada esquina. Já tínhamos sido
avisados em relação aos labirintos da Medina e à confusão de gente que
importuna os turistas para vender ou para servirem de guias, ditos “oficiais”.
Na altura em que chegamos estava na hora das orações e por isso havia menos
movimento nas ruas. Na riad explicaram-nos a organização das ruas e como chegar
à rua principal da Medina, onde se concentra grande parte do comércio. Fizemos
o reconhecimento da rua, mantendo-nos sempre que possível em linha reta. Quando
era necessário virar numa rua, memorizamos pontos de referência para podermos
voltar atrás. Recorremos também ao GPS para traçar o percurso que íamos
fazendo, para caso nos perdêssemos podermos voltar a trás. Muito do comércio
ainda estava aberto e depois das orações algumas lojas voltaram a abrir e o
movimento nas ruas aumentou.
Algumas pessoas com
quem fomos falando ao longo da viagem e antes, recomendaram-nos que andássemos
sempre com um guia em Fès para não nos perdermos e principalmente para não
sermos “assediados” por outros trafulhas. Este não é bem o nosso estilo de
conhecermos os lugares que visitamos, pois gostamos de partir à descoberta por
nós próprios, normalmente com o suporte de um mapa e algumas informações
locais. Em Fès o mapa de pouco serve no labirinto da Medina. A “contratação” de
um guia neste cenário era algo a ser seriamente considerado. Mas para o
primeiro dia estávamos bem: fizemos um primeiro reconhecimento, fomos jantar e
depois descansar na riad.
No segundo dia em
Fès partimos à aventura pela Medina ... sozinhos. Os verdadeiros guias
conhecidos pela riad estavam todos ocupados e com os guias “ditos” oficiais
contaram-nos que muitas vezes são interceptados e levados pela policia local,
deixando os turistas sozinhos na Medina. Assim sendo, decidimos ir sozinhos
sempre com atenção (tanto quanto possível) às ruas por onde íamos passando. As
ruas da Medina exuberam cores e aromas de especiarias por tudo quanto é loja.
Aqui todos os cubículos servem para vender qualquer coisa, desde bolos,
cerâmica, bijutaria, especiarias, curtumes, esquentadores, ..., enfim, tudo o
que se possa imaginar, vende-se na Medina. Afinal de contas, estes são os
centros de comércio das cidades. Os preços, como se diz por aqui, são sempre
democráticos. Fomos pois andando por entre tamanha “democracia” apreciando este
cenário tão medieval, mas ao mesmo tempo tão consumista.
Rapidamente
chegamos à zona das tinturarias de peles, a tannerie,
a qual deu sinal à distância, quer pelo “agradável” aroma que emana para os
transeuntes, quer pelo tráfego de burros que carregam as peles e aliás quase
tudo dentro da Medina. Por aqui são chamados os “táxis” da Medina, só que estes
não transportam passageiros, apenas mercadorias. Se em Portugal temos um
problema de extinção com esta espécie tão acarinhada, por aqui os burros
abundam por todo o lugar. Bem, mas ainda assim, na terra de Camões também
deambulam muitos “burros”, mas esses andam por outras Medinas. Voltando às
peles... O cheiro do local era realmente mau, mas nada que não se suportasse.
No verão, com o calor, deve ser bem pior. Assim que chegamos, os locais tiveram
logo a “amabilidade” de nos oferecerem um raminho de hortelã para disfarçar o
cheiro e convidaram-nos para irmos aos terraços, passando pelas suas lojas.
Recusamos! Quisemos ir diretos à imundície onde decorria o verdadeiro labor da
pele. O chão molhado e escorregadio, bem como a defecação dos burros compunham um
cenário idílico. Chegamos junto dos poços onde as peles são tingidas e um
senhor de galochas veio logo ter connosco para nos fazer uma visita guiada (10
Dirhams p/ pessoa). Levou-nos por entre os poços e escadas minúsculas que
desvendavam várias seções onde o trabalho das peles se desenrolava e onde as
condições de trabalho dos homens eram indescritíveis. O trabalho da tinturaria em Fés é feito desta
forma, dizem, à 7000 anos. Dizem que desde então pouco mudou no processo de
produção e que mantêm o sistema hierárquico que diferencia os vários tipos de
trabalho com a pele. No final do “tour” fomos então a um dos terraços com vista
para a tannerie, onde pudemos
apreciar uma vista panorâmica com uma multiplicidade de cores característica.
As peles secavam pelos terraços em várias cores, mas hoje o amarelo era a cor
predominante.
Depois das peles
continuamos o passeio tranquilo pela Medina. A zona da tannerie foi o local onde os Marroquinos foram mais persistentes. A
partir dai acalmaram! Seguimos para a Medersa Bouinania próxima da porta azul. Almoçamos num dos restaurantes mais conhecidos
pelos turistas e que nos tinha sido recomendado: o café clock. Aqui é possível comer algumas iguarias marroquinas, fugindo às tajines que o mais comum em quase todos
os restaurantes. Durante o restante passeio pela Medida sempre fomos parando
aqui e ali, umas vezes só para apreciar as lojas, outras vezes para nos
lançarmos num alegre regateio por qualquer coisa que nos interessasse. Uma
coisa que aprendi, faz já algum tempo, é que por muito bom que o negocio nos
pareça, o vendedor sai sempre a ganhar... e bem. Nada de ilusões, o regateio
faz parte da arte do negócio e sai sempre a favor do vendedor exímio nesta
arte. Ninguém pense que consegue dar a volta a esta gente! Feito o balanço no
final do dia, o percurso no GPS marcava para cima de 15 Km. Depois de comermos
um pão marroquino com merguês, ou kofte (carne picada), ou galinha, cada um por
10 Dirhams (< 1€), fomos descansar para a riad.
No dia seguinte
iriamos para Meknès, mas antes tínhamos a oração das 5:00 na mesquita mesmo à
nossa porta para despertar.
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