Dia 23
de Agosto
Hoje escrevo à luz de um candeeiro a petróleo,
na mesa de madeira do pátio exterior da nossa cabana em Hlane. O jornal que
tenho ao lado é o Nº2, Volume 14 de Fevereiro de 2012. Diz assim no título:
Kwentekani Eswatini, What’s Happening in Swaziland e deram-nos na fronteira
para estarmos a par das “últimas” notícias.
O parque onde estamos é o que se chama um “Big
game reserve”, onde podemos estar próximos dos grandes animais africanos. Aqui
não existe eletricidade, só temos gás propano e petróleo para os candeeiros que
nos permitem ter alguma luz dentro e fora de casa. Se até aqui ainda não nos
tínhamos sentido imersos na verdadeira África selvagem, hoje claramente o nosso
sentimento mudou.
Saímos de St. Lúcia pela manhã e fomos
diretamente ao supermercado buscar mantimentos, pois não sabíamos o que iriamos
encontrar na Suazilândia e queríamos estar preparados. Á saída do hotel
encontramos muitos macacos e impalas à beira da estrada.
Depois de cerca de 150 Km, chegamos á
fronteira com a Suazilândia. Passamos por todos os procedimentos, primeiro para
sair da África do Sul, e depois para entrar na Suazilândia.
Na estrada junto à fronteira, ainda na África
do Sul, assistimos a um espetáculo impressionante. Uma placa na estrada avisava
os condutores para conduzirem com cuidado, pois estávamos numa zona de animais.
Numa reta, encontramos uma girafa que saía da vegetação no lado esquerdo da
estrada. Paramos o carro e quem vinha atrás e de frente também parou. Tivemos
com a girafa mesmo ao lado do carro. Eu acho que ela ainda nos pescou o olho.
Tiramos fotografias e assim que continuamos viagem, ela atravessou a estrada na
maior das calmas! Foi a primeira girafa que vimos aqui e este momento mágico
aconteceu à beira da estrada.
Na saída da África do Sul, a senhora que nos
carimbou os passaportes ao ver que era Português, disse-me “Bom dia” e depois
despediu-se com um “Obrigado”. Quando passamos para a parte da Suazilândia,
deparamo-nos logo com diferenças abismais: as estradas esburacadas, o posto
fronteiriço a cair aos bocados e grande movimento de gente na conversa. Mas
apesar do aparato nada prometedor, o processo foi rápido e as pessoas
simpáticas. Carimbamos os passaportes, pagamos R50 do “road tax” para o carro e
lá entramos na Suazilândia. A Marisa como têm o passaporte Sul Africano, já
sabíamos que podia entrar sem qualquer visto, mas eu com o passaporte Português
também não me pediram nada de especial, nem sequer tive de pagar o visto.
Na Suazilândia fomos diretos a Manzini, que
julgo ser a segunda maior cidade deste reino e que dista cerca de 140 Km da
fronteira. Fizemos a viagem toda com muito cuidado pois as estradas não são tão
boas como no país de onde vínhamos, não existe muita sinalização (as lombas
aparecem do nada sem aviso prévio) e para além de tudo isto, estão
constantemente animais na berma da estrada: cabras, vacas e burros. O pior é
que de vez em quando eles lembram-se de passar a estrada.
Lá chegamos a Mazini, uma cidade cheia de
gente a correr de um lado para o outro. Afinal aqui também existem
supermercados e até “shopping mall’s”, os nossos centros comerciais. Foi ai que
estacionamos o carro para ficarmos descansados. Depois viemos a pé até ao
reboliço da cidade. Aqui não se vê praticamente gente branca. Alguns Indianos,
mas a maioria são mesmo pretos. As senhoras muito apresentáveis e alguns homens
também. Bons carros nas ruas e um ambiente muito tranquilo, típico de cidade,
onde toda a gente anda muito atarefada, não se percebe bem com o quê. Fomos a
alguns shoppings e fomos também à zona do mercado, onde estavam muitas barraquinhas
a vender fruta, legumes e de tudo um pouco. Aqui a azáfama era ainda maior com
as pessoas a entrarem e a saírem dos táxis. Nós ali éramos certamente os únicos
brancos.
Depois de passearmos pela cidade, voltamos ao
carro para nos pormos ao caminho até ao parque de Hlane onde íamos ficar, pois não
queríamos chegar de noite. O parque dista de Manzini, 70 Km. Assim que chegamos
fizemos o check-in, despejamos as malas na “hut” (cabana) e fomos logo pelos
trilhos de carro à procura de “big game”. Como o sol estava quase a pôr-se, o
nosso passeio teve de ser curto (+/- 30 min). É proibido circular à noite.
Neste curto espaço de tempo vimos rinocerontes, impalas e hipopótamos. Amanhã
vamos fazer outro passeio, desta vez a sério numas jiposas á maneira e com um
guia “swazi”.
Os hipopótamos ouviam-se da nossa cabana a
chapinharem no charco que fica junto aos alojamentos. Enquanto jantávamos na
mesa exterior da nossa cabana, ouvíamos os hipopótamos a reclamarem sabe-se lá
do quê, os pássaros também a barafustarem, enfim ...; tivemos um jantar como há
poucos! Depois do jantar, já a noite tinha caído completamente, fomos junto do
charco e avistamos, com a ajuda de um casal de Africânderes os hipopótamos a
saírem da água em direção à vegetação. Sim, porque nós nem uma lanterna
trouxemos para a “selva”! Já deviam estar fartos de água, pois passam a altura
do calor dentro de água e à noite vão comer para o campo pela fresca. Espertos
os bichos!
Nós como já estávamos de barriga cheia,
decidimos ir descansar mas de repente .... começamos a ouvir uns tambores!
Então estava a festa montada. Um grupo de cantores(as)/dançarinos(as)
preparava-se para dar um espetáculo de entretimento. Assim que o pessoal se
juntou, vindo das várias cabanas ao chamado dos tambores, o espetáculo começou.
Assistimos a várias danças e canções tradicionais Africanas e foi uma boa forma
de terminar o dia.
Agora só esperamos que os hipopótamos não se
zanguem no manjar e nos deixem dormir descansados. E ainda tenho de ir tomar um
banho à luz da vela!
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